terça-feira, 18 de setembro de 2012

A GUERRA DO PARAGUAY

No dia 18 de setembro de 1865, ocorre a rendição do Paraguai, depois do cerco de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. É um bom momento para lembrarmos daquele que é considerada o maior conflito armado da América do Sul. Muitos historiadores consideram que esta guerra foi um grande golpe na tentativa do Paraguai se tornar uma grande potência latino-americana. Conheça 20 curiosidades sobre a Guerra do Paraguai.
A guerra ocorreu no século XIX, mais especificamente durante o Segundo Reinado, considerando a situação política brasileira. Para compreender o contexto em que a guerra ocorreu, assim como os seus desdobramentos na sociedade e política brasileiras, leia o resumo sobre o Política no Segundo Reinado.
Batalha do Avaí
- A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. A guerra foi travadaentre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870.
- O conflito iniciou-se com a invasão da província brasileira de Mato Grosso pelo exército do Paraguai, sob ordens do presidente Francisco Solano López. O ataque paraguaio ocorreu após uma intervenção armada do Brasil no Uruguai, em 1863.
- Foi o último de quatro conflitos armados internacionais, na chamada Questão do Prata, em que o Brasil lutou, no século XIX, pela supremacia sul-americana, tendo o primeiro sido a Guerra da Cisplatina, o segundo a Guerra do Prata, e o terceiro a Guerra do Uruguai.
- Em represália à intervenção no Uruguai, Solano López ordenou que fosse apreendido o navio brasileiroMarquês de Olinda. No dia seguinte, o navio a vapor paraguaio Tacuari apresou o navio brasileiro, que subia o rio Paraguai rumo à então Província de Mato Grosso.
- A derrota do Paraguai marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um dos países mais atrasados da América do Sul, devido a diminuição da sua população, ocupação militar por quase dez anos,pagamento de pesada indenização de guerra, entre outros motivos.
Corpo de Voluntários da Pátria
- Em 7 de janeiro de 1865, são criados os corpos de Voluntários da Pátria, que pretendiam incentivar o alistamento de civis por ideais patrióticos. No começo até que dá certo, mas logo a empolgação passa, e o trabalho de alistamento se torna cada dia mais complicado.
- Os “voluntários” começam então a ser recrutados na marra. Cada qual dava seu jeito para escapar da guerra. Uns doavam dinheiro e empregados, outros tramavam para que inimigos políticos fossem no seu lugar. Havia até quem oferecesse familiares: sobrinhos, irmãos, filhos…
- A prática mais comum, no entanto, era a aquisição de escravos para substituir o convocado. Até o governo passou a comprar negros para as batalhas. “Forças e mais forças a Caxias. Apresse a medida de compra de escravos e todos os que possam aumentar o nosso Exército”, escreveu dom Pedro II ao ministro da Guerra.
- Estima-se que mais de 20 mil escravos tenham lutado na guerra. O número representa cerca de 16% dos soldados brasileiros. Como é de se imaginar, eram tratados como inferiores pelos companheiros. Muitos trabalhavam como criados dos soldados brancos.
- A ordem do dia para a Batalha de Tuiuti, uma das mais importantes da guerra, determinava: todos os batalhões deveriam estar a postos, inclusive “os bagageiros e camaradas (criados) dos senhores oficiais”. Era uma clara referência aos escravos que estavam na guerra.
 Saldo da Guerra do Paraguai
- O Paraguai sofreu grande redução em sua população. A guerra acentuou um desequilíbrio entre a quantidade de homens. Algumas fontes citam que 75% da população teria perecido ao final da Guerra. Estimativas atuais, contudo, fixam o percentual de perdas de vidas entre 15% e 20% da população.
- Dos cerca de 160 mil brasileiros que combateram na guerra, as melhores estimativas apontam cerca de 50 mil óbitos e outros mil inválidos. Outros ainda estimam que o número total de combatentes pode ter chegado a 400 mil, com 60 mil mortos em combate ou por doenças.
- As forças uruguaias contaram com quase 5.600 homens, dos quais pouco mais de 3.100 morreram durante a guerra devido às batalhas ou por doenças. Já a Argentina perdeu cerca de 18 mil combatentes dentre os quase 30 mil envolvidos. Outros 12 mil civis morreram devido principalmente a doenças.
- As altas taxas de mortalidade na guerra não foram decorrentes somente por conta dos encontros armados. Entre os brasileiros, pelo menos metade das mortes tiveram como causa doenças típicas de situações de guerra do século XIX. A principal causa mortis durante a guerra parece ter sido o cólera.
- Não houve um tratado de paz em conjunto. Embora a guerra tenha terminado em março de 1870, os acordos de paz não foram concluídos de imediato. As negociações foram interrompidas pela recusa argentina em reconhecer a independência paraguaia.
Retorno do Exército
- As aldeias paraguaias destruídas pela guerra foram abandonadas e os camponeses sobreviventes migraram para os arredores de Assunção, dedicando-se à agricultura de subsistência na região central do país. As terras das outras regiões foram vendidas a estrangeiros, principalmente argentinos, e transformadas em latifúndios.
- O mercado paraguaio abriu-se para os produtos ingleses e o país viu-se forçado a contrair seu primeiro empréstimo no exterior: um milhão de libras da Inglaterra, que se pode considerar a potência mais beneficiada por esta guerra.
- Depois da guerra, boa parte das melhores terras do Paraguai foi anexada pelos vencedores. O Brasil ficou com a região entre os rios Apa e Branco, aumentando para o sul o estado do Mato Grosso. A Argentina anexou o território das Missões e a área conhecida como Chaco Central.
- O Brasil, que sustentou praticamente sozinho a guerra, pagou um preço alto pela vitória. Durante os cinco anos de lutas, as despesas do Império chegaram ao dobro de sua receita, provocando uma crise financeira. Aescravidão passou a ser questionada, pois os escravos que lutaram pelo Brasil permaneceram escravos.
- O Exército Brasileiro passou a ser uma força nova e expressiva dentro da vida nacional. Transformara-se numa instituição forte que, com a guerra, acabou ganhando tradição e força interna e representaria um papel significativo no desenvolvimento posterior da história do país.
Maiêutica 
foi elaborada por Sócrates no século IV a.C. Através desta linha filosófica ele procura dentro do Homem a verdade. É famosa sua frase “Conhece-te a ti mesmo”, que dá início à jornada interior da Humanidade, na busca do caminho que conduz à prática das virtudes morais. Através de questões simples, inseridas dentro de um contexto determinado, a Maiêutica dá à luz idéias complicadas.
Sócrates, seu criador, nasceu por volta de 470 ou 469 a.C., na cidade de Atenas. Ao longo de sua vida ocupou alguns cargos públicos, mas seu comportamento sempre foi modelo de integridade e ética. Sua educação se deu principalmente através da meditação, moldada na elevada cultura ateniense deste período. Ele acreditava não ser possível filosofar enquanto as pessoas não alcançassem o autoconhecimento, percebendo assim claramente seus limites e imperfeições. Assim, considerava que deveria agir conforme suas crenças, com justiça, retidão, edificando homens sábios e honestos, ao contrário dos sofistas, que só buscavam tirar vantagens pessoais das situações.
Sua forma de viver, porém, com liberdade de opinião, considerações críticas, ironia e uma maneira específica de educar, provocaram a ira geral e lhe angariou uma lista de inimigos. Sob a ótica de seus contemporâneos, ele era visto como líder de uma elite intelectual. Acusado de perverter os jovens e de substituir os deuses venerados em sua terra natal por outros desconhecidos, ele negou-se a elaborar uma defesa própria, pois argumentava que seus ensinamentos eram imortais, não algo para ser compreendido e aceito naquele momento, no âmbito da vida material. Assim, preferiu morrer, recusando inclusive a fuga providenciada por seu discípulo Criton, porque não desejava ir contra as leis humanas. Assim, morreu aos 71 anos de idade, vítima da execução à qual fora condenado.
O filósofo busca o conhecimento através de questões que revelam uma dupla face – a ironia e a maiêutica. Através da ironia, o saber sensível e o dogmático se tornam indistintos. Sócrates dava início a um diálogo com perguntas ao seu ouvinte, que as respondia através de sua própria maneira de pensar, a qual ele parecia aceitar. Posteriormente, porém, ele procurava convencê-lo da esterilidade de suas reflexões, de suas contradições, levando-o a admitir seu equívoco.
Por intermédio da maiêutica, ele mergulha no conhecimento, ainda superficial na etapa anterior, sem atingir porém um saber absoluto. Ele utilizava este termo justamente porque se referia ao ato da parteira – profissão de sua mãe -, que traz uma vida á luz. Assim ele vê também a verdade como algo que é parido. Seu senso de humor costumava desorientar seus ouvintes, que na conclusão do debate acabavam admitindo seu desconhecimento. Deste diálogo nascia um novo conhecimento, a sabedoria. Um exemplo comum deste método é o conhecido diálogo platônico ‘Mênon’ – nele Sócrates orienta um escravo sem instrução a adquirir tal conhecimento que ele se torna capaz de elaborar diversos teoremas de geometria.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012


O Segredo: A lei da atração e a filosofia



o-segredo
Atualmente, ainda mais em sociedades díspares financeiramente, como a nossa, livros de auto-ajuda, conquistas rápidas, ganhos repentinos e teorias milagrosas de aspectos intangíveis movimentam bilhões de dólares nos mercados editoriais e alcançam enormes sucessos quando chegam até os sedentos leitores que necessitam de um alento para suas vidas tão difíceis.
Não é muito diferente do que a religião oferece, quando mostra que os melhores caminhos são os que devem ser seguidos segundo seus preceitos e práticas, elaboradas por alguns líderes, seguida por milhares de pessoas, diferentes mas unificadas.
Tenha fé e alcançará não é um conceito tão novo como a autora do livro quer fazer crer, é apenas uma nova roupagem para um conceito secular.
Teorias simplistas não são derrubadas por terem em sua essência um ponto de verdade, ainda que não se justifiquem na totalidade.
Acreditar que você pode realmente te prepara e conduz para a conquista, mas o simples acreditar não te faz ir além se apenas sentido, isoladamente. Não há milagre, não há segredos.
Da mesma forma, alguém que é um permanente pessimista, desacredita de tudo e de si próprio, obviamente tentará timidamente, lutará comedidamente e quererá menos, sendo assim, fatalmente não irá tão longe.
Esses princípios básicos, óbvios e verdadeiros são a essência de uma teoria desprovida de qualquer fundamento filosófico e mais profundo, mas por “iludirem” na essência, enganam na forma e conquistam na totalidade.
O papel da filosofia é justamente o questionar ao contrário de teorias simplistas e superficiais que carecem de profundidade lógica.
Se fossem questionadas mais profundamente não teriam o mesmo sucesso e não seriam tão aceitas se perguntadas e vistas na totalidade.
Como propunha Popper, todas as idéias e conceitos devem partir do pressuposto da falseabilidade.
A filosofia é um convite a pensar sobre determinada questão e não a pensar de determinada forma. Um exercício em constante movimento, não uma verdade única, a descoberta de um segredo revelador ou o pote de ouro de práticas existenciais.
Grandes pensadores são os que aceitam o questionamento, já que através destes, formularam suas teorias. São conscientes que novos pensamentos virão e transformarão idéias, refinando, ajustando e engrandecendo cada conceito.
Analisando o livro “O Segredo” e a teoria da lei da atração, podemos observar conceitos tidos como verdadeiros e inquestionáveis. Tentam revelar uma descoberta do que é, sempre foi e jamais deixará de ser.
É considerado pela autora como o grande segredo a ser revelado para a humanidade que, por milênios, desconheceu suas práticas de uma forma geral e apenas uns, poucos, vencedores, tiveram acesso a tais conhecimentos e, por isso, se destacaram e foram vencedores.
Para a autora, tudo o que nos chega veio, antecipadamente, através de nossa mente, atraído pela imagem que formamos de determinada situação.
Tudo o que pensamos e visualizamos, mentalmente, atraímos em nossas vidas.
Para ela, poucos como Platão, Galileu, Einstein, tinham conhecimento de tal lei e por isso tornaram-se vencedores e de tal forma admirados.
Tal descoberta “tão profunda” e feita aleatoriamente no acaso, fez com que a autora tentasse firmar sua tese visualizando em nossa época outros “detentores e praticantes” de tal conhecimento. Cita então alguns pensadores, palestrantes, empresários e filósofos afirmando que o segredo para tudo o que você quiser, sem limites, é o simples pensar que acontecerá, acompanhado do visualizar, daí você atrai tudo o que deseja.
Para “O Segredo”, a lei da atração se baseia na idéia de que nossos pensamentos geram um impulso que o universo capta, atraindo assim, tudo o que nos concentramos, conscientes ou não. Dessa forma, nosso papel é nos concentrar e deixar o resto com o universo.
O simples pensar, acompanhado do visualizar, fazendo com que você viva como se já estivesse diante de tal realidade te permite conquistar todos os seus desejos, uma teoria com um forte paralelo bíblico sobre a fé.
É interessante que as bases para tais pensamentos metafísicos e um tanto quanto esotéricos, ganham notoriedade quando suas bases são vinculadas a ciências como a física e a química, em uma tentativa de embasar os conceitos do segredo, cientificamente.
Analisando, sob vários ângulos, percebemos que o livro teve sua explosão de vendas nos Estados Unidos, uma sociedade consumista e receptiva para tais argumentos.
Sua forte repercussão aconteceu em um momento em que o mundo vivia um período de forte aquecimento econômico, abundância material e ganhos financeiros inéditos. Se o livro fosse lançado hoje, em plena crise, será que ganharia os mesmos “seguidores”?
Indo um pouco mais além, o que seria a crise, a junção de vários “pensadores negativistas”, atraindo a recessão?
Ganham mais evidências os ditos que vão de acordo com o que queremos e não necessariamente com o que precisamos ouvir, sendo assim, ao vivermos em uma sociedade onde o lucro fácil e as “loterias” ilustram os sonhos de milhões, pensamentos de conquistas repentinas mexem com a imaginação de muitos.
A riqueza, buscada por muitos e conquistada por poucos, deixa de ser uma constante luta de esforços e tentativas e passa a ser um alvo que se aproxima quase que por milagre, ao visualizarmos que um dia chegará.
E ainda, é a teoria onde o ter vai muito além do ser.
Na essência, tem lógica, mas e na forma?
Apenas o pensamento, sem a movimentação para a direção certa e as atitudes necessárias, conseguiria realmente alcançar o que sonhamos?
Os defensores argumentarão que a tese não se resume ao sonhar e sim ao acreditar, que promoverá a força para lutar e a capacidade de conquistar…. mas, se é realmente isso que o livro quer passar, se é mesmo esse conceito tão óbvio e antigo, onde está “o segredo”? Ou, a revelação de “tal segredo” é apenas uma jogada de marketing sem apresentar nada de novo e tão pouco profundo?
Para que tais teorias sejam aplicadas a autora não leva em consideração o caráter histórico, social, tornando a teoria subjetiva e superficial.
Esquece também do individualismo emocional, que o que pensamos vem de acordo com o que podermos pensar, baseados em nossas formações, aceitações, posições, realizações, ensinamentos, sociedade, exemplos, leis, deveres e direitos, incentivos, interferências educacionais, hormonais, etc..
A proposta do livro me soa como uma hipnose coletiva onde todos devem pensar da mesma forma, seguir os mesmos preceitos, não questionar tais ações e por fim, receber inconscientemente o que a consciência voluntária e programada, plantou.
Outras formas de se questionar tais segredos são, se TUDO o que é, vem movido por nossas mentes e o universo reage segundo o pensamento isolado de cada um, como podemos explicar as vitórias de um sobre o outro quando dois pensam com o mesmo objetivo?, em times de futebol, quando apenas um ganha…as vitórias são determinadas pelo pensamentos, ou treinamentos?
Se dois seres, conscientes do segredo, buscam a riqueza em frentes e direções opostas onde apenas um dos dois pode ir além, como conciliar o vencedor e o perdedor? Por suas ações assertivas ou pelo simples fato de que sua fé foi maior?
Como explicar desastres coletivos, quedas de aviões, tsunamis, torres comerciais derrubadas, guerras criadas, todos os envolvidos estavam emanando a mesma e trágica vibração, simultaneamente?
E quando um suicida sobrevive ao seu ato? Quis, sem querer?
Poderíamos evitar todas as doenças, através de um permanente pensamento positivo, eternizando-nos?
Questões como o que é vencer, ser bem sucedido e conquistar, são profundas demais para sofrerem uma análise mais complexa pelo livro, sendo assim, suas essências e conceitos epistemológicos são ignorados.
“O Segredo” vai mais além quando diz que a depressão é também perfeitamente manipulável com a consciência de tais segredos, ignorando fatores químicos hormonais, disfunções neuronais, patologias mentais, etc..
A tese é ainda mais simplificada quando diz que possuímos dois tipos de sentimentos, os bons e maus.
Sabemos diferenciá-los porque um nos faz sentir bem e o outro mal.
Aspectos culturais, sociais, temporais, mais uma vez, são totalmente ignorados.
Sendo assim, posso ir além com inúmeros outros questionamentos ou refutações que demonstram a fragilidade da “lei da atração”, mas será mesmo necessário?
A conquista está realmente em nós.
Irremediavelmente nossas ações geram resultados, mas não chegam por ações tão simplistas e sim com movimentos e posicionamentos.
Capacidade de lutar, ir além, desenvolver, buscar, combinados com o aspecto social de nossa realidade, suas interações, alianças, insistências e possibilidades, políticas, formações, acertos involuntários, caminhos impensados e tantos outros fatores e realidades imponderáveis determinam o resultado muito além do simples querer.
Vale ainda, reescrever a frase de Schopenhauer, “podemos querer o que queremos?”
Em determinados momentos de nossa vida temos sucessos e fracassos, momentos de vitórias e invariavelmente crises, seja em uma relação amorosa, trabalhos, amigos, saúde, nada é estático e temos que nos preparar para todas as situações, convictos que até nas crises surgem excelentes oportunidades.
Para que tenhamos certezas mais certas, lógicas mais racionais, conscientes e assertivas devemos nos preocupar em conhecer as verdades e seus “segredos”, de mente aberta, imparcialmente, ainda que nos choque, ainda que vá contra nossos sonhos, ainda que não alimente esperanças.
Use a fórmula de Sócrates para analisar “O Segredo” e verá sua inconsistência.
Questione quaisquer verdades com perguntas imparciais e conscientes, criando sua visão específica de um mundo que não tem uma forma final, aceitando duvidar, perguntar, entender e não seguir por ser o mais simples, agradável ou fácil.
Teorias coletivas e conceitos inquestionáveis são tão passageiros quanto seus autores e suas certezas.


Heráclito e a liderança


“Tudo flui… nenhum homem pode banhar-se no mesmo rio por duas vezes, porque nem o homem, nem a água do rio serão os mesmos”
Heráclito, que viveu nas ilhas mediterrâneas, assim como Tales, escreveu essa frase há aproximadamente 500 anos a.c.
Na frase, ele consegue expressar a síntese de sua filosofia, onde tudo o que é um dia não será mais. Tudo flui e permanece em constante movimento.
Sustentava que só a mudança e o movimento são reais e que a identidade das coisas iguais a si mesmas são ilusórias.
Todo o mundo é um constante fluxo perene onde nenhuma coisa é jamais a mesma, tudo se transforma em constante evolução.
Criou em seus pensamentos a unidade dos opostos, onde tenta explicar que por mais que algo mude, a aparência não determina que se perca a essência.
A teoria da unidade dos opostos é talvez o aspecto mais original de seus pensamentos, para ele, a lei do mundo reside no relacionamento de interdependência de dois conceitos opostos que lutam contra si, mas, ao mesmo tempo, não se separam já que um vive em virtude do outro. Talvez nem existissem se ao mesmo tempo não existisse seu oposto.
Se nos encontrássemos de frente para uma subida e víssemos um amigo do outro lado, ele diria que é uma descida, ou seja, não são caminhos diversos e sim o mesmo, vistos por ângulos opostos.
Por isso, as vezes, verdades divergentes não são opostas e sim apenas situações vistas por outros ângulos.
São justamente esses opostos que formam tudo o que é.
Eliminar as lutas e as contradições é extinguir a realidade, evitá-las é esquecer a origem de tudo.
O que gera a unicidade e o aperfeiçoamento de cada condição é exatamente a luta permanente de forças opostas
A luz só existe porque temos o escuro.
A alegria, pela tristeza.
O som, pelo silêncio.
Sua empresa pode ser líder, apenas porque existem concorrentes.
É na luta pelo seu mercado, na conquista de seu consumidor que você se movimenta, aprimora suas práticas cria novas e melhores posturas.
Mas não se esqueça que tudo flui, portanto liderança isolada e permanente não existe.
Por mais que sua empresa seja líder em seu setor, ainda que conte com uma ampla margem a frente do segundo colocado, um dia, por mais que isso demore, muda.
Temos inúmeros exemplos históricos disso.
O Egito como nação soberana, foi perdendo seu posto no decorrer de séculos, assim como aconteceu com a Grécia, com o Império Romano ou até mais recentemente no Império Napoleônico e assim por diante.
Cada um por um erro estratégico, ou as vezes apenas por permanecerem estáticos diante das mudanças, o fato é que para permanecermos, precisamos nos mover, sempre.
A verdade de hoje não será a prática de amanhã.
Grandes conglomerados perderam suas forças porque não souberam adaptar-se às novas realidades.
Motivos que posicionaram sua empresa como líder, ou fizeram de sua carreira um sucesso, amanhã serão abalados e transformados.
Não é uma questão de pessimismo ou desilusão, ao contrário, é o acompanhamento histórico de que tudo flui e nada permanece estático, sendo assim, tuas ações, atitudes e estratégias, para que permaneçam vencedoras, tem que ser recicladas de acordo com o tempo, adversários e interferências.
Administrar e empreender com sucesso é enxergar antecipadamente a transformação que seu meio está sofrendo, antecipando-se, adaptando-se.
Posturas absolutas e posicionamentos permanentes devem ser desacreditados.
Nada é estático e confiável em sua permanente forma já que a mudança e a transformação são as leis do universo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012


SENSO MORAL E CONSCIÊNCIA MORAL

Muitas vezes, tomamos conhecimento de movimentos nacionais e internacionais de luta contra a fome. Ficamos sabendo que, em outros países e no nosso, milhares de pessoas, sobretudo crianças e velhos, morrem de penúria e inanição. Sentimos piedade. Sentimos indignação diante de tamanha injustiça (especialmente quando vemos o desperdício dos que não têm fome e vivem na abundância). Sentimos responsabilidade. Movidos pela solidariedade, participamos de campanhas contra a fome. Nossos sentimentos e nossas ações exprimem nosso senso moral.
Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolável ou por alguma emoção forte (medo, orgulho, ambição, vaidade, covardia), fazemos alguma coisa de que, depois, sentimos vergonha, remorso, culpa. Gostaríamos de voltar atrás no tempo e agir de modo diferente. Esses sentimentos também exprimem nosso senso moral.
Em muitas ocasiões, ficamos contentes e emocionados diante de uma pessoa cujas palavras e ações manifestam honestidade, honradez, espírito de justiça, altruísmo, mesmo quando tudo isso lhe custa sacrifícios. Sentimos que há grandeza e dignidade nessa pessoa. Temos admiração por ela e desejamos imitá-la. Tais sentimentos e admiração também exprimem nosso senso moral.
Não raras vezes somos tomados pelo horror diante da violência: chacinas de seres humanos e animais, linchamentos, assassinatos brutais, estupros, genocídio, torturas e suplícios. Com freqüência, ficamos indignados ao saber que um inocente foi injustamente acusado e condenado, enquanto o verdadeiro culpado permanece impune. Sentimos cólera diante do cinismo dos mentirosos, dos que usam outras pessoas como instrumento para seus interesses e para conseguir vantagens às custas da boa-fé de outros. Todos esses sentimentos manifestam nosso senso moral.
Vivemos certas situações, ou sabemos que foram vividas por outros, como situações de extrema aflição e angústia. Assim, por exemplo, uma pessoa querida, com uma doença terminal, está viva apenas porque seu corpo está ligado a máquinas que a conservam. Suas dores são intoleráveis. Inconsciente, geme no sofrimento. Não seria melhor que descansasse em paz? Não seria preferível deixá-la morrer? Podemos desligar os aparelhos? Ou não temos o direito de fazê-lo? Que fazer? Qual a ação correta?
Uma jovem descobre que está grávida. Sente que seu corpo e seu espírito ainda não estão preparados para a gravidez. Sabe que seu parceiro, mesmo que deseje apoiá-la, é tão jovem e despreparado quanto ela e que ambos não terão como se responsabilizar plenamente pela gestação, pelo parto e pela criação de um filho. Ambos estão desorientados. Não sabem se poderão contar com o auxílio de suas famílias (se as tiverem).
Se ela for apenas estudante, terá que deixar a escola para trabalhar, a fim de pagar o parto e arcar com as despesas da criança. Sua vida e seu futuro mudarão para sempre. Se trabalha, sabe que perderá o emprego, porque vive numa sociedade onde os patrões discriminam as mulheres grávidas, sobretudo as solteiras. Receia não contar com os amigos. Ao mesmo tempo, porém, deseja a criança, sonha com ela, mas teme dar-lhe uma vida de miséria e ser injusta com quem não pediu para nascer. Pode fazer um aborto? Deve fazê-lo?
Um pai de família desempregado, com vários filhos pequenos e a esposa doente, recebe uma oferta de emprego, mas que exige que seja desonesto e cometa irregularidades que beneficiem seu patrão. Sabe que o trabalho lhe permitirá sustentar os filhos e pagar o tratamento da esposa. Pode aceitar o emprego, mesmo sabendo o que será exigido dele? Ou deve recusá-lo e ver os filhos com fome e a mulher morrendo?
Um rapaz namora, há tempos, uma moça de quem gosta muito e é por ela correspondido. Conhece uma outra. Apaixona-se perdidamente e é correspondido. Ama duas mulheres e ambas o amam. Pode ter dois amores simultâneos, ou estará traindo a ambos e a si mesmo? Deve magoar uma delas e a si mesmo, rompendo com uma para ficar com a outra? O amor exige uma única pessoa amada ou pode ser múltiplo? Que sentirão as duas mulheres, se ele lhes contar o que se passa? Ou deverá mentir para ambas? Que fazer? Se, enquanto está atormentado pela decisão, um conhecido o vê ora com uma das mulheres, ora com a outra e, conhecendo uma delas, deve contar a ela o que viu? Em nome da amizade, deve falar ou calar?
Uma mulher vê um roubo. Vê uma criança maltrapilha e esfomeada roubar frutas e pães numa mercearia. Sabe que o dono da mercearia está passando por muitas dificuldades e que o roubo fará diferença para ele. Mas também vê a miséria e a fome da criança. Deve denunciá-la, julgando que com isso a criança não se tornará um adulto ladrão e o proprietário da mercearia não terá prejuízo? Ou deverá silenciar, pois a criança corre o risco de receber punição excessiva, ser levada para a polícia, ser jogada novamente às ruas e, agora, revoltada, passar do furto ao homicídio? Que fazer?
CONSCIÊNCIA MORAL
Situações como essas – mais dramáticas ou menos dramáticas – surgem sempre em nossas vidas. Nossas dúvidas quanto à decisão a tomar não manifestam apenas nosso senso moral, mas também põem à prova nossa consciência moral, pois exigem que decidamos o que fazer, que justifiquemos para nós mesmos e para os outros as razões de nossas decisões e que assumamos todas as conseqüências delas, porque somos responsáveis por nossas opções.
Todos os exemplos mencionados indicam que o senso moral e a consciência moral referem-se a valores (justiça, honradez, espírito de sacrifício, integridade, generosidade), a sentimentos provocados pelos valores (admiração, vergonha, culpa, remorso, contentamento, cólera, amor, dúvida, medo) e a decisões que conduzem a ações com conseqüências para nós e para os outros. Embora os conteúdos dos valores variem, podemos notar que estão referidos a um valor mais profundo, mesmo que apenas subentendido: o bom ou o bem. Os sentimentos e as ações, nascidos de uma opção entre o bom e o mau ou entre o bem e o mal, também estão referidos a algo mais profundo e subentendido: nosso desejo de afastar a dor e o sofrimento e de alcançar a felicidade, seja por ficarmos contentes conosco mesmos, seja por recebermos a aprovação dos outros.
O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade. Dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte de nossa vida intersubjetiva.
JUÍZO DE FATO E DE VALOR
Se dissermos: “Está chovendo”, estaremos enunciando um acontecimento constatado por nós e o juízo proferido é um juízo de fato. Se, porém, falarmos: “A chuva é boa para as plantas” ou “A chuva é bela”, estaremos interpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um juízo de valor.
Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são, como são e por que são. Em nossa vida cotidiana, mas também na metafísica e nas ciências, os juízos de fato estão presentes. Diferentemente deles, os juízos de valor - avaliações sobre coisas, pessoas e situações - são proferidos na moral, nas artes, na política, na religião.
Juízos de valor avaliam coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis.
Os juízos éticos de valor são também normativos, isto é, enunciam normas que determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. São juízos que enunciam obrigações e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto.
Os juízos éticos de valor nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos normativos nos dizem que sentimentos, intenções, atos e comportamentos devemos ter ou fazer para alcançarmos o bem e a felicidade. Enunciam também que atos, sentimentos, intenções e comportamentos são condenáveis ou incorretos do ponto de vista moral.
Como se pode observar, senso moral e consciência moral são inseparáveis da vida cultural, uma vez que esta define para seus membros os valores positivos e negativos que devem respeitar ou detestar.
Qual a origem da diferença entre os dois tipos de juízos? A diferença entre a Natureza e a Cultura. A primeira, como vimos, é constituída por estruturas e processos necessários, que existem em si e por si mesmos, independentemente de nós: a chuva é um fenômeno meteorológico cujas causas e cujos efeitos necessários podemos constatar e explicar.
Por sua vez, a Cultura nasce da maneira como os seres humanos interpretam a si mesmos e suas relações com a Natureza, acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela, alterando-a através do trabalho e da técnica, dando-lhe valores. Dizer que a chuva é boa para as plantas pressupõe a relação cultural dos humanos com a Natureza, através da agricultura. Considerar a chuva bela pressupõe uma relação valorativa dos humanos com a Natureza, percebida como objeto de contemplação.
Freqüentemente, não notamos a origem cultural dos valores éticos, do senso moral e da consciência moral, porque somos educados (cultivados) para eles e neles, como se fossem naturais ou fáticos, existentes em si e por si mesmos. Para garantir a manutenção dos padrões morais através do tempo e sua continuidade de geração a geração, as sociedades tendem a naturalizá-los. A naturalização da existência moral esconde, portanto, o mais importante da ética: o fato de ela ser criação histórico-cultural.
UTILITARISMO
O Utilitarismo é um tipo de ética normativa -- com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século XVIII e XIX. Jeremy Bentham e John Stuart Mill, -- segundo a qual uma ação é moralmente correta se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do agente da ação mas também a de todos afetados por ela.
O Utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a que o indivíduo deva perseguir seus próprios interesses, mesmo às custas dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente das conseqüências que eles possam ter.
O Utilitarismo assim difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de bom ou mal de uma ação depender do motivo do agente porque, de acordo com o Utilitarismo, é possível que uma coisa boa venha a resultar de uma motivação ruim no indivíduo.
Antes, porém, desses dois autores darem forma ao Utilitarismo, o pensamento utilitarista já existia, inclusive na filosofia antiga, principalmente no de Epicuro e seus seguidores na Grécia antiga. E na Inglaterra, alguns historiadores indicam o Bispo Richard Cumberland, um filósofo moralista do século XVII, como o primeiro a apresentar uma filosofia utilitarista. Uma geração depois, Francis Hutcheson, com sua teoria do "sentido interior da moralidade" ("moral sense") manteve uma posição utilitarista mais clara. Ele cunhou a frase utilitarista de que "a melhor ação é a que busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos". Também propôs uma forma de "aritmética moral" para cálculo da melhor conseqüência possível. David Hume tentou analisar a origem das virtudes em termos de sua contribuição útil.
O próprio Bentham disse haver descoberto o "princípio de utilidade" nos escritos de vários pensadores do século XVIII como Joseph Priestley, um clérigo dissidente famoso por haver descoberto o oxigênio, e Claude-Adrien Helvétius, autor de uma filosofia de meras sensações, de Cesare Beccaria, jurista italiano, e de David Hume. Helvétius foi posterior a Hume e deve ter conhecido seu pensamento, e Beccária o de Helvécios..
Outro apoio ao Utilitarismo é o de natureza teológica, devido a John Gay, um filósofo estudioso da bíblia que argumentava que a vontade de Deus era o único critério de virtude, mas que, devido à bondade divina, ele concluía que Deus desejava que o homem promovesse a felicidade humana.
Bentham, que aparentemente acreditava que o indivíduo, no governos de seus atos iria sempre buscar maximizar seu próprio prazer e minimizar seu sofrimento, colocou no prazer e na dor ambos a causa das ações humanas e as bases de um critério normativo da ação.
À arte de alguém governar suas próprias ações, Bentham chamou "ética particular". Neste caso a felicidade do agente é o fator determinante; a felicidade dos outros governa somente até o ponto em que o agente é motivado por simpatia, benevolência, ou interesse na boa vontade e opinião favorável dos outros.
Para Bentham, a regra de se buscar a maior felicidade possível para o maior número possível de pessoas devia ter papel primordial na arte de legislar, na qual o legislador buscaria maximizar a felicidade da comunidade inteira criando uma identidade de interesses entre cada indivíduo e seus companheiros. Aplicando penas por atos mal-intencionados, o legislador faria prejudicial para um homem causar dano ao seu vizinho. O trabalho filosófico mais importante de Bentham, An Introduction to the Principles of Morals and Legislation ("Uma introdução aos princípios de moral e legislação"), de 1789, foi pensado como uma introdução a um projeto de Código Penal.
Jeremy Bentham atraiu jovens intelectuais como discípulos, entre eles o economista David Ricardo, James Mill e o jurista John Austin. Mais tarde John Stuart Mill, filho de James Mill, defendia o voto feminino, a educação paga pelo Estado para todos, e outras propostas radicais para sua época, com base na visão utilitarista de que tais medidas eram essenciais à felicidade e bem estar de todos, assim como também a liberdade de expressão e a não interferência do governo quando o comportamento individual não afetasse as outras pessoas. Seu ensaio "Utilitarianism," publicado no Fraser's Magazine (1861), é citada como uma elegante defesa da doutrina Utilitarista e considerada ser ainda a melhor introdução ao assunto, apresentando o Utilitarismo como uma ética tanto para o comportamento do indivíduo comum quanto para a legislação social.
ÉTICA DEONTOLÓGICA (KANT) E ÉTICA TELEOLÓGICA (ARISTÓTELES)
São duas perspectivas ou teorias sobre a ação ética.
A ÉTICA DEONTOLÓGICA, defendida por Kant, valoriza a intenção da ação, de acordo com o dever, independentemente das conseqüências.
Deontologia significa “teoria do dever” ou “estudo do que convém”, em termos de ação. Agir por dever e em função de uma boa intenção são os princípios que determinam a boa ação. Agir bem implica uma boa intenção e uma boa vontade. O que é que isto quer dizer? A ação é boa se a intenção (razão ou motivo) for boa e se ela for pensada como boa vontade, ou seja, se for universal. Será universal se o que decidirmos for bom para nós próprios e para os outros (todos). Se não for uma ação egoísta ou só pensada em função de mim próprio terá uma dimensão ética, de maneira que, como diz KANT: “age de tal maneira que uses a humanidade tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro sempre como um fim e nunca simplesmente como um meio”. Por outras palavras, devemos tratar os outros como nos tratamos a nós próprios; assim se compreende a dimensão universal dos nossos atos, defendida por KANT. Por isso se diz que a ética de KANT é uma Ética Formal: não indica normas concretas de conduta, mas dá indicações gerais de como devemos agir com os outros. Não diz como em concreto devemos fazer para tratar os outros como “fins em si”, do tipo, como fazer para a velhinha passar a estrada, mas, em geral, sugere posturas universais aplicáveis a todas as situações (devemos tratar os outros como pessoas que têm valor por si próprias e que nunca devemos usar para nosso benefício).
A ÉTICA TELEOLÓGICA, defendida por autores com ARISTÓTELES é uma Ética consequencialista. Isto significa que a boa ação se deve medir pelas conseqüências. Ou seja, o fim da ação é o que determina todo o agir. E o fim último e mais importante é a felicidade. Todos os homens se devem reger por esta finalidade.
Teleologia significa o “estudo do fim”; aliás, “teleos” significa fim, o fim da ação. Em concreto, numa ação concreta, o mais importante não é saber se a intenção é boa, mas sim se teve boas conseqüências. Por isso se diz que é uma Ética do Concreto, que diria com se deve atingir a felicidade e com se deveria ajudar a velhinha a passar a estrada.
Para ARISTÓTELES, o ser humano deve procurar o fim adequado à sua natureza (Humana) e esse fim é a virtude e a felicidade. Nos atos humanos devemos procurar agir em equilíbrio de maneira a não prejudicar os outros. Um ato virtuoso é um ato equilibrado que não peca por defeito nem por excesso. Assim, a coragem excessiva pode levar à morte e a cobardia pode resultar da mesma forma; neste caso a ponderação da ação com vista ao fim que se deseja é a melhor das ações, sendo o meio-termo a melhor solução. Em Ética e segundo este autor, no meio é que está a virtude.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012



Para que Filosofia?

Ora, muitos fazem uma outra pergunta: afinal, para que Filosofia?
É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém perguntar, por
exemplo, para que matemática ou física? Para que geografia ou geologia? Para
que história ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? Para que astronomia
ou química? Para que pintura, literatura, música ou dança? Mas todo mundo acha
muito natural perguntar: Para que Filosofia?
Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos
estudantes de Filosofia: “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o
mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso,
se costuma chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça no
mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são
perfeitamente inúteis.
Essa pergunta, “Para que Filosofia?”, tem a sua razão de ser.
Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma
coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e
de utilidade imediata.
Por isso, ninguém pergunta para que as ciências, pois todo mundo imagina ver a
utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à
realidade.
Todo mundo também imagina ver a utilidade das artes, tanto por causa da
compra e venda das obras de arte, quanto porque nossa cultura vê os artistas
como gênios que merecem ser valorizados para o elogio da humanidade.
Ninguém, todavia, consegue ver para que serviria a Filosofia, donde dizer-se: não
serve para coisa alguma.
Parece, porém, que o senso comum não enxerga algo que os cientistas sabem
muito bem. As ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças
a procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade,
através de instrumentos e objetos técnicos; pretendem fazer progressos nos
conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os.
Ora, todas essas pretensões das ciências pressupõem que elas acreditam na
existência da verdade, de procedimentos corretos para bem usar o pensamento,
na tecnologia como aplicação prática de teorias, na racionalidade dos
conhecimentos, porque podem ser corrigidos e aperfeiçoados.
Marilena Chauí
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Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relação entre
teoria e prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso não é ciência, são
questões filosóficas. O cientista parte delas como questões já respondidas, mas é
a Filosofia quem as formula e busca respostas para elas.
Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da
Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. No entanto, como apenas os
cientistas e filósofos sabem disso, o senso comum continua afirmando que a
Filosofia não serve para nada.
Para dar alguma utilidade à Filosofia, muitos consideram que, de fato, a Filosofia
não serviria para nada, se “servir” fosse entendido como a possibilidade de fazer
usos técnicos dos produtos filosóficos ou dar-lhes utilidade econômica, obtendo
lucros com eles; consideram também que a Filosofia nada teria a ver com a
ciência e a técnica.
Para quem pensa dessa forma, o principal para a Filosofia não seriam os
conhecimentos (que ficam por conta da ciência), nem as aplicações de teorias
(que ficam por conta da tecnologia), mas o ensinamento moral ou ético. A
Filosofia seria a arte do bem viver. Estudando as paixões e os vícios humanos, a
liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão para impor limites
aos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na
companhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinarnos
a virtude, que é o princípio do bem-viver.
Essa definição da Filosofia, porém, não nos ajuda muito. De fato, mesmo para ser
uma arte moral ou ética, ou uma arte do bem-viver, a Filosofia continua fazendo
suas perguntas desconcertantes e embaraçosas: O que é o homem? O que é a
vontade? O que é a paixão? O que é a razão? O que é o vício? O que é a virtude?
O que é a liberdade? Como nos tornamos livres, racionais e virtuosos? Por que a
liberdade e a virtude são valores para os seres humanos? O que é um valor? Por
que avaliamos os sentimentos e as ações humanas?
Assim, mesmo se disséssemos que o objeto da Filosofia não é o conhecimento da
realidade, nem o conhecimento da nossa capacidade para conhecer, mesmo se
disséssemos que o objeto da Filosofia é apenas a vida moral ou ética, ainda
assim, o estilo filosófico e a atitude filosófica permaneceriam os mesmos, pois
as perguntas filosóficas - o que, por que e como - permanecem.
Atitude filosófica: indagar
Se, portanto, deixarmos de lado, por enquanto, os objetos com os quais a
Filosofia se ocupa, veremos que a atitude filosófica possui algumas
características que são as mesmas, independentemente do conteúdo investigado.
Essas características são:
- perguntar o que a coisa, ou o valor, ou a idéia, é. A Filosofia pergunta qual é a
realidade ou natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importa qual;
Convite à Filosofia
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- perguntar como a coisa, a idéia ou o valor, é. A Filosofia indaga qual é a
estrutura e quais são as relações que constituem uma coisa, uma idéia ou um
valor;
- perguntar por que a coisa, a idéia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia
pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma idéia, de um valor.
A atitude filosófica inicia-se dirigindo essas indagações ao mundo que nos rodeia
e às relações que mantemos com ele. Pouco a pouco, porém, descobre que essas
questões se referem, afinal, à nossa capacidade de conhecer, à nossa capacidade
de pensar.
Por isso, pouco a pouco, as perguntas da Filosofia se dirigem ao próprio
pensamento: o que é pensar, como é pensar, por que há o pensar? A Filosofia
torna-se, então, o pensamento interrogando-se a si mesmo. Por ser uma volta que
o pensamento realiza sobre si mesmo, a Filosofia se realiza como reflexão.
A reflexão filosófica
Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno
a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si
mesmo, interrogando a si mesmo.
A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamento
sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o
próprio pensamento.
Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no
mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as
plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto
por meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações.
A reflexão filosófica também se volta para essas relações que mantemos com a
realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que realizamos nessas
relações.
A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas
ou questões:
1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que
fazemos? Isto é, quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que
pensamos, dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos?
2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando
falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o
sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?
3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que
fazemos? Isto é, qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e
fazemos?
Marilena Chauí
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Essas três questões podem ser resumidas em: O que é pensar, falar e agir? E elas
pressupõem a seguinte pergunta: Nossas crenças cotidianas são ou não um saber
verdadeiro, um conhecimento?
Como vimos, a atitude filosófica inicia-se indagando: O que é? Como é? Por que
é?, dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e
com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a significação ou a
estrutura e a origem de todas as coisas.
Já a reflexão filosófica indaga: Por quê?, O quê?, Para quê?, dirigindo-se ao
pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a
capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir.
Filosofia: um pensamento sistemático
Essas indagações fundamentais não se realizam ao acaso, segundo preferências e
opiniões de cada um de nós. A Filosofia não é um “eu acho que” ou um “eu
gosto de”. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios de comunicação de
massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer preferências dos consumidores
e montar uma propaganda.
As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático.
Que significa isso?
Significa que a Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca
encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou idéias
obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação
racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode
fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem
uma visão crítica de si mesmas. Não se trata de dizer “eu acho que ”, mas de
poder afirmar “eu penso que”.
O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático porque não se
contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as
próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam
verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem
conjuntos coerentes de idéias e significações, sejam provadas e demonstradas
racionalmente.
Quando o senso comum diz “esta é minha filosofia” ou “isso é a filosofia de
fulana ou de fulano”, engana-se e não se engana.
Engana-se porque imagina que para “ter uma filosofia” basta alguém possuir um
conjunto de idéias mais ou menos coerentes sobre todas as coisas e pessoas, bem
como ter um conjunto de princípios mais ou menos coerentes para julgar as
coisas e as pessoas. “Minha filosofia” ou a “filosofia de fulano” ficam no plano
de um “eu acho” coerente.
Convite à Filosofia
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Mas o senso comum não se engana ao usar essas expressões porque percebe,
ainda que muito confusamente, que há uma característica nas idéias e nos
princípios que nos leva a dizer que são uma filosofia: a coerência, as relações
entre as idéias e entre os princípios. Ou seja, o senso comum pressente que a
Filosofia opera sistematicamente, com coerência e lógica, que a Filosofia tem
uma vocação para formar um todo daquilo que aparece de modo fragmentado em
nossa experiência cotidiana.



Marilena Chaui

para que filosofia?

MUITAS PESSOAS SE PERGUNTAM PARA QUE FILOSOFIA?

... VEM  NA TENTATIVA TIRAR TAIS DÚVIDAS TÃO COMUNS QUE OUVIMOS A CADA VEZ QUE FALAMOS DE FILOSOFIA.