sábado, 26 de outubro de 2013


O NÃO-DEUS

Todos os seres nascem com algo especial, que embora todos os outros seres nasçam também, são diferentes. o cosmo é vivo, e sempre estará dirigindo os finais de nossas ações, embora, temos em cada um de nós uma singularidade especial, a livre escolha de decidir nossas escolhas e ações, independentemente de nossas predestinações, com isso aplico que, não busco uma resolução de “livre arbítrio”, mas, uma visão que todos somos seres modificadores do cosmo, mas nossas escolhas são meras escolhas mesquinhas de ser, pois, no final dessa trajetória cósmica, seremos aquilo que sempre fomos um dia. Somos o que somos, somos, ou deveríamos ser aquilo que cada essência estabeleceu para ser, cada uma de nos somos seres únicos, somos compostos por um poder cosmológico único, que cabe somente a nos a existência, pois a existência em outro ser não é existência, é reflexa de uma existencia, a imitação não existe.  O Não-Deus esta nesse exato ponto, em cada ser, em cada coisa, esta o Deus, o fato de chamar-se Não-Deus, se refere que esse ser de imensa magnitude não existe como Deus supremo, que rege seu poder e interfere, e conduz na vida de todos de forma generalizada, em uma única realidade, um Deus supremo para todos os seres, não existe.
Se o homem é a semelhança de Deus, não poderíamos existir, pois, é preciso existir em si primeiro, ser semelhança de algo que o mesmo próprio o criou, não é um Deus de todos, se não, todos os seres seriam iguais, pois, estes seriam a semelhança de uma única criatura. Logo, afirmo que cada ser possui uma singularidade, algo que pertence somente a cada um, algo que faz esse ser, ser o que sempre foi ou é, um Deus único, e cada um dos seres são formas únicas e belas do cosmo. Somos a visão de algo superior, algo único e particular de cada coisa, o Deus vive em cada um de nós, mas não somos Deus, essa fonte de poder apenas vive em cada de nós, isso seria o Não-Deus.
 O Deus existente é o Não-Deus, essa forma cósmica vive em si e para si, só então nasce como ser. Para existirmos precisamos existir como formas únicas, existimos a parti de formas únicas e belas, o Não-Deus vive em si, somos o Não-Deus, logo, para existimos teremos que pensarmos como formas únicas, pois, assim somos. Somos criaturas essenciais para o cosmo, tudo está organizado, dito, e exclamado em um só ponto do universo, embora não sejamos únicos seres no cosmo infinito, as leis que regem nesse sistema são as mesmas que regem no outro, pois, o cosmo é infinito e eterno, o cosmo vive e morre, conclui seu inicio e realiza seu fim, pois este é eterno. Os seres são representações cosmológicas existentes nessa realidade, a forma de viver nesse sistema real é diferente do outro sistema, pois, as visões do real não dependem das coisas, são as coisas que dependem dos planos cosmológicos que são realizadas.
Tudo tem um princípio, tudo tem uma finalidade, uma ordem. As coisas não nascem sem passar pelo nada, e o nada não surge pelo simples fato de querer existir, as coisas existem por uma ordem, por um principio em busca de sua finalidade. Os componentes do cosmo nascem pelo fato de morrerem, ou morrem pelo fato de nascerem, ou seja, nada seria se o inicio fosse apenas o inicio e o fim apenas o fim, tudo cria-se por uma ordem maior; a saberia do cosmo é infinita, é única.
As respostas da vida e da morte esta no cosmo, a luta pela indignação do homem com relação a morte é algo visível desde o inicio dos tempos. Aqui venho deixar, o fato de que ninguém morre da forma como pensamos que morremos; morremos para nunca mais voltar, como muitos afirmam; que já se foi nunca mais volta, etc. em meus pensamentos, isso é uma injustiça com a própria existência, com a própria vida, pois, só passamos a viver nessa realidade ‘viva’ quando morremos, se não, a morte não viria a existir, o que seria da morte sem a vida, ou vice-versa. Repito que nada surge por existir, nada se perde no cosmo para o eterno, tudo esta sempre na eterna mudança, sempre obedecendo a uma ordem superior.
As respostas do universo (cosmo), os segredos mais íntimos da vida e da morte encontram-se em cada um dos seres, os segredos da vida, o segredo da felicidade, o segredo da riqueza, o verdadeiro sentido da vida, encontra-se em cada um dos seres. Vós sois responsável pela força e pela fraqueza, vós sois responsável pelo vento que bate sua face, és o início e o fim das coisas, és tudo e o nada, és  a maldade e a bondade, a justiça e a injustiça, o amor e o ódio; vós és o oposto da singularidade do cosmo, somos todos componentes formadores de nós mesmos a partir de algo maior, vós és criatura importantíssima desse cosmo, pois, tudo surge de ti; surges da materialização de pensamentos de algo equivalente a tudo que és, nasce e terminas em ti, surges para ser o que é, e o verdadeiro sentido da vida está em ser aquilo que a natureza cósmica lhe proporcionou. A negação da verdadeira essência toma como consequência a eterna luta do sentido da vida, a eterna presença das dúvidas da vida e da morte, é a negação da própria verdade; negação da própria existência.

A ESSÊNCIA PRECEDE A EXISTÊNCIA

Não somos folhas em branco aprendendo algo novo, somos folhas borradas, aprendendo aquilo que um dia aprendemos, mas esquecemos enquanto forma de essência, seres puros enquanto nós mesmos, seres sem prisões. Quando retornamos ao ciclo cósmico físico, esquecemos quase tudo, e o que nos restam são passagens do mesmo lugar, do mesmo tempo, pois o tempo e o lugar não existem de forma separada, tudo esta no mesmo tempo e espaço. O que pode vir a ser, já existe, ou esta acontecendo, pois o tempo cósmico obedece apenas à lógica, a lógica e a instabilidade-estável do próprio cosmo.
Os seres, ou, as coisas, surgem pelo valor de sua essência. A essência estabelece o caráter do ser a parte de reflexões cosmológicas, e isso faria o ser a existir como é, ou devesse ser. A essência é uma fórmula única que cada ser possui, todos os seres possuem essência, contudo, no decorrer de sua vida perde-se de seu caminho cósmico e consequentemente perde seu valor no cosmo.
Os seres sempre buscam ser algo que não são, buscam uma falsa existência, uma existência secundaria, que por sua vez, acaba sobrepondo-se sobre a essência original, a existência natural. Com isso, o homem aprendeu a ser, não pelo fato de querer ser outra coisa, mas pelo fato que a sociedade é hipócrita.
Toda busca em ser algo que não é, o ser, como consequência, fica inconformado com sua existência. Mas não a existência primeira, mas a que ele criou, pois, esta é má, pois, traz consigo ao mesmo tempo conforto e desconforto, é enganosa e paralelamente o ser é irreconhecível para si próprio. Os homens fogem de sua própria essência, querem ser algo ‘maior’ que já são, com isso, perdem-se no caminho da hipocrisia. Logo, os homens que caminham sobre esses caminhos, da falsa essência, não existem e não possuem valor algum no cosmo, pois, estes seres negam sua essência, logo, negam sua existência, e somente seres existentes podem influenciar no cosmo.
Os homens podem ter prestígios na sociedade, pois é poço de hipocrisia. Os seres são formadores da sociedade, logo, a sociedade não existe. É muito mais fácil existir no outro, pois, este é a maioria e já é aceito no meio hipócrita, que ser aquilo que a verdadeira essência estabeleceu para ser. Não se mede o valor dos homens pelos seus bens, o verdadeiro valor do ser esta em seu caráter.
A essência sempre existiu no ser, ela forma, ela cria, ela é imutável, a essência faz o ser existir. A essência precede a existência, pelo fato que não podemos existir dos outros ou para o outro, pois então, o que seriamos de fato¿ o outro¿ a essência precede a existência, e, toda forma que queira existir no cosmo deve comportar-se como forma única de existência, sem influências externas. Contudo, o verdadeiro ser existente nunca virá a existir, pois, somos influenciados constantemente e isso nos forma e nos faz existir, mas, isso seria uma existência instável, uma existência falsa. Logo, a verdadeira existência não esta em negar uma criatura cosmológica superior, ou ser agrupamentos de experiências da vida, a verdadeira existência esta em ser tudo aquilo que a essência nos precedeu.
As funcionalidades da existência de uma criatura cosmológica superior aos seres são fundamentais para o entendimento de nossa própria existência. A escolha de decidir nossos entendimentos, atitudes, é um dos fatores máximos disso, pois, a criatura cósmica superior não nos remete nossas funções como um carpinteiro em relação ao martelo, mas uma funcionalidade existente e única para cada ser. Temos a livre escolha de ser o que quisermos, mas a verdadeira essência é eterna.
 O Não-Deus, que é o ser superior de nossa existência, esse ser, existiu primeiro em si e para si, ao eterno, por isso é reflexo da perfeição e do infinito; nos coisas somos imperfeitos e não eternos, somente nossa essência, pois, esta é perfeita e imutável. Com isso, o Não-Deus existir com tal, e sua ordem não é refletida para os outros seres, pois somos reflexos de outras essências, e portanto, com vontades, formas diferentes, mas, somos inferiores, não pelo simples fato de sermos inferiores, mas, pelo fato de que não alcançamos a perfeição através da lealdade de nossa essência; o Deus dos seres hipócritas não é o Não-Deus, pois este ultimo é a negação de toda hipocrisia dos homens quando criam o Deus do comércio.
O Não-Deus é Tudo e o Nada; é o fim e o início; é as trevas e a luz; é a perdição e a salvação; é a esquerda e a direita; é  o ser das estrelas; é o ser de todo o conhecimento, do útil e inútil; este ser, o Não-Deus és tu! Cada um de vós! Esse ser é grandioso e capaz de mudar tudo, mas, ser fiel a si mesmo, primeiro; esse ser dentem todos os segredos do universo, pois esse ser é tudo, é a luz, é o término do começo, é vós.
O Deus do Homem é o próprio Homem, pois, cada homem e cada mulher são perfeitos por natureza, a imperfeição é alcança com o rompimento em ser fiel à essência, esse rompimento é dos Homens, o rompimento é gerado no caminho de sua vida, logo, o Homem torna-se Deus de si próprio, tornam-se Deus dos outros Homens; o ser verdadeiro morre nessa realidade, o Homem matou Deus, pois o Homem quer ser maior; o Homem quer ser único, o Homem não será eterno por essas razões, mas, o Não-Deus é. Nada por querer ser, o querer ser não existe, o Querer ser, o Dever, o Servir, não existem, pois não equivalem a verdadeira essência de sua criação; não queiras ser aquilo não és; sejas da sociedade, mas, não sejas a sociedade; seja feliz por querer ser feliz, com motivos que sejam confortantes; não queira ser, seja!
Quando cada homem alcançar a luz da verdade e for fiel a sua verdadeira essência, este será perfeito e eterno junto a sua essência, que esta sim, é eterna independentemente das atitudes de sua criação. - O hipócrita não existe enquanto ser, mas, todo ser existe como hipócrita.

O VERDADEIRO PECADO

O pecado não existe, ele é uma forma imaginária que os seres de má essência criaram para deter o poder. O poder das coisas sempre foi uma paixão fútil que os Homens sempre quiseram em seu domínio, a criação do pecado é uma forma de domínio, uma forma de manipulação em massa, que usa-se a expressão dos sentimentos mais íntimos dos seres, o medo, a desconfiança, a felicidade, e principalmente a tristeza.
O verdadeiro pecado esta em não ser; o verdadeiro pecado esta em manipular os outros; o verdadeiro pecado esta em dizer que Deus é único, e o único caminho para a “salvação”; o verdadeiro pecado é dizer que somos imperfeitos por sermos nós mesmos; o verdadeiro pecado é privar o homem das coisas que ele gosta; o verdadeiro pecado é dizer que o pecado existe.
Os seres transformaram Deus em uma mercadoria; Deus é uma mercadoria dos Homens, capitalizaram Deus; as portas do “céu” são pagas; voltamos a idade média; ou melhor, nunca saímos, ou nunca evoluímos em nós. As religiões são lindas, os Homens são cruéis, e fizeram delas os seus interesses pessoais, a religião é vendida nos templos, os templos religiosas funcionam como empresas que seus funcionaram pagam para trabalhar em busca de nada, pois, o Deus do infinito não necessita dos bens materiais dos homens, mas, que os homens sejam o que são, e sejam gratos por isso, por sua existência.
Os homens são hipócritas e tolos, se dizem saber da verdade máxima, se dizem ser o que nã são, a hipocrisia reina sobre o mundo. Os líderes religiosos são hipócritas. A igreja pura não necessita do dinheiro especula humano, pois, tudo vem do ser que rege as leis no universo. Cristo Jesus, em sua essência ou materializado, nunca necessitou de templos gigantescos; pregava sua filosofia em lugares simples, para pessoas simples; não buscava o “dinheiro”, mas a confiança e gratidão dos seres; não exaltava o nome do criador das coisas em vão, para suplicar por esmolas capitalizadas, mas sim, por coisas grandiosas, além dos bens dos homens, buscava a sua confiança e lealdade, esse seria o bem maior que hoje não é aplicado na prática, pois o poder religioso esta sob domínio dos homens hipócritas.

"Venham, todos vocês que estão com sede, venham às águas; e vocês que não possuem dinheiro algum, venham, comprem e comam! Venham, comprem vinho e leite sem dinheiro e sem custo.”  (Isaías 55:1).

Os dízimos nas igrejas cristãs são hipocrisias absurdamente aceitas pelas pessoas, pessoas que não refletem sobre as divinas escrituras, logo, a enganação torna-se mais fácil. É muito mais fácil enganar os seres quando os mesmo a sabedoria não os pertencem. O dízimo é imoral, e serve para seres de baixa reflexão como forma de conforto, conforto de que? Será que se dermos dinheiro para a igreja, com o velho discurso de manter os luxos da mesma, seria um discurso aceitável? Será que para divulgar a palavra de saberia é necessário o luxo, e templo moderníssimos? Os templos religiosos devem-se adequar as modernidades dos Homens? Sendo que, para o ser Deus, ele é o mesmo desde o começo ate o eterno.

“Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre.” – Hb 13: 8.

Os homens e seus interesses mudam; a ganância dos homens, em amar o dinheiro e a riqueza, pois, os homens são mutáveis, mas o senhor do cosmo é imutável, logo, eterno. Pois, o todo homem e toda mulher que suprir suas necessidades vidando somente o dar em troca de receber é um tolo, pois, este nunca alcançará a vida eterna.

“Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos.” (Eclesiastes 5:10).

O Deus do como ou o Não-Deus, esse ser é eterno e esta em todos os seres, mas nem todo ser esta neste ser, este ser não é homem nem mulher, esse ser apenas existe, como é.
Devemos buscar a verdadeira essência de ser, o Deus não hipócrita ou o Não-Deus esta em todo homem e toda mulher; temos o poder cosmológico do eterno; precisamos encontrar o Não-Deus, só então seremos imutáveis, pois, não precisaremos de riquezas e cobiças dos outros, passamos existir em si e para si.
Aqueles que aplicam a existência em um Deus exterior e superior a cada um de nós, deve ser punido por sua própria ignorância e hipocrisia, pois, o ser supremo do cosmo, apesar de ser “supremo”, é supremo em cada um dos seres, logo, somo tão quanto, contudo, sua existência, e sabedoria é limitada por nós mesmo, por nossa arrogância e ganancia humana, a nossa hipocrisia e futilidades, características essas que limitam nossa capacidade de conectividade com nosso próprio ser.

Cada homem e cada mulher são livres para ser o que sempre foi um dia; cada homem e cada mulher não deve-se curvar-se para outros homens; cada homem e cada mulher deve obedecer somente a si mesmo; cada homem e cada mulher tem o direito de ser, e não querer ser; tem o direito de pedir o que quiser, tem o direito de ter direitos, não coisas fúteis, mas o que te faz ser, tem o direito de não ir a igreja, tem o direito de amar quem quiser, tem o direito de odiar quem quiser, tem o direito de sorrir e ficar triste quando quiser, tem o direito de louvar quem quiser e onde quiser, tem o direito de escrever o que quiser, tem o direito de duvidar, de perguntar, de pensar o que quiser; todo homem e toda mulher tem o direito a vida, têm direito aos seus amores. 

texto não completo do ensaio  para o existencialismo das coisas de Felipe Kevin Ramos da Silva.




domingo, 24 de fevereiro de 2013


A existência de umbigo em Adão pode ser um ponto de partida para o debate sobre a origem do homem*
A existência de umbigo em Adão pode ser um ponto de partida para o debate sobre a origem do homem*
A origem do ser humano dentro da teologia judaico-cristã radica no momento da criação, quando Deus criou Adão como sua imagem e semelhança. Esta forma de entender a origem do homem se colocou como predominante desde que o cristianismo se tornou a principal religião do Ocidente.
Entretanto, desde o fortalecimento do racionalismo, a partir do Iluminismo no século XVIII, as doutrinas religiosas passaram a ser questionadas e novas teorias explicativas sobre os mais variados assuntos foram desenvolvidas. No caso da origem do ser humano, a influência da análise racional sobre o mundo natural levou Charles Darwin, principalmente, a elaborar a teoria evolucionista, colocando a origem do ser humano como decorrente da evolução das espécies, frente à sua adaptação ao meio em que estavam inseridas.
O dilema sobre as duas teorias explicativas pode manter vivo um questionamento que vem sendo feito há séculos: Adão tinha ou não tinha umbigo?
Esta questão pairou sobre a cabeça dos teólogos durante a Idade Média e o Renascimento, no Ocidente, levando inclusive a intensos debates entre os bizantinos.
No âmbito do criacionismo há duas possíveis versões. Deus tendo criado Adão já adulto não seria necessário a ele ter um umbigo, pois ele não havia sido gerado a partir do útero de uma mulher. Porém, como Deus criou um ser perfeito, mesmo sendo já adulto, Adão foi feito com umbigo, igual aos demais homens e mulheres que ele teria deixado como descendentes.
Pelo lado da visão do evolucionismo é certo que Adão tinha um umbigo, pois mesmo que seja tratado como o primeiro homem propriamente dito, decorrente da evolução dos hominídeos, ele teria sido gerado dentro do útero de uma progenitora, sendo necessária para a sua gestação a alimentação através do cordão umbilical. Com o corte deste cordão após o nascimento, resultaria o umbigo.
Apesar da existência ou não do umbigo de Adão ser uma discussão cujo resultado é estéril, ela gerou algumas controvérsias, durante a Idade Média e o Renascimento, principalmente no que se refere à produção artística. Os pintores que retratavam as cenas do Éden se viam frente a esta questão: representar Adão com ou sem umbigo?
Alguns pintores usavam como recurso para fugir da resposta insolúvel a pintura de folhas grandes na região pélvica de Adão, que além de esconder seus órgãos genitais, tapava também o local onde presumivelmente se localizava o umbigo. O teólogo John MacArthur afirma que Michelangelo ao pintar seu mais famoso afresco na capela Sistina, A Criação de Adão, teria dado um umbigo enorme a Adão, o que lhe valeu observações repressivas por parte de alguns teólogos da época.
Esta questão da existência ou não do umbigo de Adão serve em nossos dias para mostrar o quanto é também conflituosa a explicação da origem do homem frente às duas principais teses explicativas sobre este fato, o criacionismo e o evolucionismo. O debate confrontando fé e ciência pode não gerar respostas absolutas, mas pode ampliar a reflexão e aprofundar nossos conhecimentos sobre a vida e a forma que a desenvolvemos no mundo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


Lei de Thelema
Faze o que tu queres há de ser toda a Lei
O princípio Thelemico está dedicado aos altos propósitos de segurança da Liberdade do Indivíduo e de seu crescimento em Luz, Sabedoria, Compreensão, Conhecimento e Poder; mediante Beleza, Coragem e Sapiência;
lei de Thelema está encravada no Livro da Lei, recebido por Aleister Crowley em 1904, e com este, uma mensagem de revolução do pensamento humano, da cultura e religião baseados no simples axioma: "Faze o que tu queres há de ser toda a Lei - Amor é a lei, amor sob vontade". Essa Lei, resumida na palavra Thelema, não é para ser interpretada como uma licença para satisfazer cada capricho vivido, porém antes um mandato a descobrir a sua única e Verdadeira Vontade e persegui-la; deixando outros fazerem o mesmo em seus únicos e próprios e caminhos. "Todo homem e toda mulher é uma estrela".
Amor é a lei, amor sob vontade.
Paz, Tolerância, Verdade;
Saudações em Todos os Pontos do Triângulo;
Com Respeito à Ordem.
A Quem Interessar possa.
Thelema ("Télêma") é uma palavra Grega que significa "vontade" ou "intenção". Ela é também o nome da nova filosofia espiritual que foi erguida à quase cem anos e está agora tornando-se gradualmente estabilizada ao redor do mundo.
Uma das mais primeiras menções a esta filosofia ocorre no clássico Gargantua e Pantagruel escritos por Francois Rabelais em 1532. Um episódio desta aventura épica conta-nos da fundação da "Abadia de Thelema" como uma instituição para o cultivo das virtudes humanas, que Rabelais identificou como sendo por completa oposta às prevalecentes propriedades Cristãs do momento. A única regra da Abadia de Thelema era: "Faze o que tu queres há de ser toda a Lei". Essa tem sido uma das crenças básicas da filosofia Thelemica hoje.
Embora tocada sobre vários proeminentes e visionários pensadores nos cem anos seguintes, a semente de Thelema plantada por Rabelais eventualmente veio a dar frutos na primeira parte deste século, quando desenvolvida por um inglês chamado Aleister Crowley. Crowley foi um poeta, autor de vários livros, montanhista, magista e membro de uma sociedade oculta conhecida como Ordem Hermética da Aurora Dourada (Hermetic Order of Golden Dawn). Em 1904, enquanto viajava pelo Egito, com sua esposa Rose Kelly, Crowley tornou-se inexplicavelmente envolvido em uma série de eventos no qual ele clama inaugurar um novo aeon da evolução da humanidade. Esses fatos culminaram em Abril, quando Crowley entrou em um estado de transe e escreveu os três capítulos de 220 versos que veio a ser chamado O Livro da Lei (também conhecido como Liber AL e Liber Legis). Entre outras coisas, esse livro declarou: "A palavra da Lei é Thelema" e "Faze o que tu queres há de ser toda a Lei".
Crowley gastou o resto de sua vida desenvolvendo a filosofia de Thelema, tal como revelado pelo Livro da Lei. O resultado foi uma volumosa produção de comentários e trabalhos relacionados à magick, misticismo, yoga, qabalah e outros assuntos ocultistas. Virtualmente todos esses escritos levaram a influência de Thelema, tal como interpretada e entendida por Crowley em sua capacidade como profeta do Novo Aeon.
Uma teoria defende que cada capítulo do Livro da Lei está associado, em particular, com um aeon da evolução espiritual da humanidade. De acordo com isto, o Capítulo Um caracteriza o Aeon de Ísis, quando o arquétipo da divindade feminina era eminente. O Capítulo Dois relata o Aeon de Osíris, quando o arquétipo do deus morto tornou-se proeminente, e as palavras da religiões patriarcais foram estabelecidas. O Capítulo Três proclama o alvorecer de um novo aeon, o Aeon de Hórus, a criança de Ísis e Osíris. É neste novo aeon que a filosofia de Thelema será completamente desvelada à humanidade, e será estabelecida como o primeiro paradigma para a evolução espiritual das espécies.
Alguns desses elementos essenciais da crença em Thelema são:
"Todo homem e toda mulher é uma estrela."
O significado disto geralmente é tomado que cada um indivíduo é único e têm seus próprios caminhos em um universo espaçoso, onde eles podem mover-se livremente sem colisão.
"Faze o que tu queres há ser toda a Lei." e "tu não tens direito senão faze o que tu queres."
Muitos Thelemitas esperam que toda pessoa possui uma Verdadeira Vontade, uma simples motivação abrangente por suas existências. A Lei de Thelema determina que cada pessoa siga sua Verdadeira Vontade para alcançar satisfação na vida e liberdade das restrições da suas naturezas. Pois duas Verdadeiras Vontades não podem estar em real conflito (de acordo com "Todo homem e toda mulher é uma estrela"), essa Lei também proíbe alguém de interferir na Verdadeira Vontade de qualquer outra pessoa.
A noção de absoluta liberdade para um indivíduo seguir sua Verdadeira Vontade é uma das nutridas entre os Thelemitas. Essa filosofia também reconhece que a principal tarefa de um indivíduo que inicia o caminho de Thelema, é primeiro descobrir sua Verdadeira Vontade, através de métodos de auto-exploração tal como a magick. Além disso, toda Verdadeira Vontade é diferente, e por isso cada pessoa tem um único ponto de vista do universo, ninguém pode determinar a Verdadeira Vontade para outra pessoa. Cada pessoa deve chegar a descobrir por elas próprias.
É claro, com a ênfase sobre a liberdade e individualidade inerente em Thelema, as crenças de qualquer dado Thelemita são provavelmente para diferenciar daqueles de qualquer outro. No Comento anexado ao Livro da Lei é estabelecido que: "Todas as questões do Livro da Lei devem ser decididas apenas por apelo aos meus escritos, cada qual por si mesmo." Nisso, Thelema mal pode ser classificada como um "religião", uma vez que ele engloba uma vasta área de crenças, desde ateísmo ao politeísmo. O importante é que cada pessoa tem o direito de completar-se através de quaisquer credo e ações que são melhor adequados para eles (desde que eles não interfiram na vontade de outros), e somente eles mesmos estão qualificados para determinar quais são.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013


                         Parmênides de Eléia (530 - 460 a.C)
Parmênides é um filósofo que expôs seus pensamentos através da poesia em estilo homérico, mas nem por isso deixa de usar rigorosos argumentos dedutivos em suas colocações. Parmênides é o fundador da escola de Eléia e despertou grande admiração de Platão.

Dos seus poemas restaram-nos 154 versos e eles dividem-se em três partes. A primeira é uma introdução onde ele coloca como chegou às suas revelações. O filósofo conta a sua viagem imaginária pela morada da deusa da justiça que o conduzirá ao coração da verdade. A deusa mostra a Parmênides o caminho da opinião que conduz à aparência e ao engano e o caminho da verdade que conduz à sabedoria do ser. Cada um desses caminhos será tratado nas duas  partes seguintes.

Na segunda parte ele argumenta que o que é é diferente do que geralmente os homens supõem que seja. Nessa parte, intitulada Caminho da Verdade (alétheia), ele coloca o que a razão nos diz e ele faz isso através da metafísica dedutiva. Começa por premissas que ele acredita serem verdadeiras e dedutivamente ele chega a conclusões que também devem ser verdadeiras. Seus argumentos lógicos reconstruídos podem ser expressos da seguinte forma:
1 - Ou algo existe ou algo não existe.
2 - Se é possível pensar em algo, esse algo pode existir.
3 - Nada não pode existir.
4 - Se podemos pensar em algo esse algo não é nada.
5 - Se podemos pensar em algo esse algo tem quem ser alguma coisa.
6 - Se podemos pensar em algo esse algo tem que existir.
Na sequencia Parmênides expõe que somente nos resta dizer que esse algo é, pensar ou dizer que esse algo não é é impossível. Esse algo que é tem portanto obrigatoriamente que ser incriado e imperecível.

Na terceira parte, intitulada Caminho da Opinião (doxa), sobre a qual não podemos ter nenhuma certeza, ele faz uma descrição de como ele vê o mundo. Para ele essa sua descrição é falsa e enganosa pois é simplesmente o resultado de uma ordenação de palavras, mas essa ordenação é a melhor coisa que os homens podem fazer, sendo portanto a melhor descrição apresentada. Aqui ele expõe as crenças das pessoas simples. São conjuntos de teorias físicas como o dualismo entre o limitado e o ilimitado, que ele relaciona com a luz e as trevas, fazendo da realidade física uma mistura e uma luta entre esses dois elementos. É através dessa divisão que ele ordena as qualidades. Na comparação entre a luz e a escuridão, a escuridão é a negação da luz. Diferenciou as qualidades da natureza em positivas e negativas tomando por base outros opostos como vida e morte, fogo e terra, masculino e feminino, quente e frio, ativo e passivo, leve e pesado. Assim para ele nosso mundo se divide em duas esferas, as de qualidade positiva (luz, vida, fogo, masculino, quente, ativo, leve) e as de qualidade negativa (escuridão, morte, terra, feminino, frio, passivo, pesado). As qualidades negativas são uma negação das qualidades positivas e Parmênides utiliza os termos "não ser" para o negativo e "ser" para o positivo.

Parmênides via as mudanças físicas que ocorrem no mundo como uma mistura onde participam o ser e o não-ser, resultando  num vir-a-ser. A mistura é feita pelo desejo e quando o desejo é satisfeito o ser e o não-ser novamente se separam. O filósofo conclui assim que a mudança é uma ilusão. Somente existem o ser e o não-ser, o vir-a-ser é portanto uma ilusão dos nossos sentidos.

A filosofia de Parmênides se apresenta como um contraste entre a verdade e a aparência. A aparência é percebida pelos sentidos que nos mostram o ser e o não ser e nos levam a diversos erros. Já a verdade somente pode ser buscada pela razão, que para Parmênides demonstra que não podemos pensar o não ser, pois não podemos pensar sem que esse pensar seja sobre algo. Pensar sobre nada é não pensar da mesma forma que dizer nada é não dizer. Somente podemos pensar e expressar o que pensamos através de um objeto e esse objeto já é algo, já é um ser. Ele conclui que o ser é e não pode não ser e através dessa ideia ele expressa sua principal tese filosófica que vai dirigir toda sua investigação racional. Ele cria assim os principais fundamentos da ontologia que é vista como metafísica pois o ser não é somente o ser da natureza, mas também o ser do homem e das suas ações, e mais ainda, é o ser de qualquer coisa que possa ser pensada.

Sentenças:
- O ser é e não pode não ser.
- O pensamento e o ser são a mesma coisa.
- O ser é imóvel porque se se movesse poderia vir-a-ser e então seria e não seria ao mesmo tempo.



Parmênides

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

FILOSOFɑNDO:                                   ARELIGIÃO E O S...

FILOSOFɑNDO:
                                  ARELIGIÃO E O S...
:                                   A RELIGIÃO E O SÓCIO                                                                                  ...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


Diógenes de Sínope
Diógenes de Sínope (em grego antigo: Διογένης ὁ Σινωπεύς; Sínope, 404 ou 412 a.C. – Corinto, c. 323 a.C.), também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia Antiga. Os detalhes de sua vida são conhecidos através de anedotas (chreia), especialmente as reunidas por Diógenes Laércio em sua obra Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes.
Diógenes de Sínope foi exilado de sua cidade natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Tornou-se um mendigo que habitava as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; diz-se que teria vivido num grande barril, no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Eventualmente se estabeleceu em Corinto, onde continuou a buscar o ideal cínico da autossuficiência: uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Por acreditar que a virtude era melhor revelada na ação e não na teoria, sua vida consistiu duma campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais do que ele via como uma sociedade corrupta.
Segundo a tradição, Diógenes vivia a perambular pelas ruas na mais completa miséria até que um dia foi aprisionado por piratas para, posteriormente, ser vendido como escravo. Um homem com boa educação chamado Xeníades o comprou. Logo ele pôde constatar a inteligência de seu novo escravo e lhe confiou tanto a gerência de seus bens quanto a educação de seus filhos.
Diógenes levou ao extremo os preceitos cínicos de seu mestre Antístenes. Foi o exemplo vivo que perpetuou a indiferença cínica perante os valores da sociedade da qual fazia parte. Desprezava a opinião pública e parece ter vivido em uma pipa ou barril. Reza a lenda que seus únicos bens eram um alforje, um bastão e uma tigela (que simbolizavam o desapego e autossuficiência perante o mundo), sendo ele conhecido também, talvez pejorativamente como kinos, o cão, pela forma como vivia.
A felicidade – entendida como autodomínio e liberdade – era a verdadeira realização de uma vida. Sua filosofia combatia o prazer, o desejo e a luxúria pois isto impedia a autossuficiência. A virtude – como em Aristóteles – deveria ser praticada e isto era mais importante que teorias sobre a virtude.
Diógenes é tido como um dos primeiros homens (antecedido por Sócrates com a sua célebre frase “Não sou nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo.”) a afirmar, “Sou uma criatura do mundo (cosmos), e não de um estado ou uma cidade (polis) particular”, manifestando assim um cosmopolitismo relativamente raro em seu tempo.
Diógenes parece ter escrito tragédias ilustrativas da condição humana e também uma República que teria influenciado Zenão de Cítio, fundador do estoicismo. De fato, a influência cínica sobre o estoicismo é bastante saliente.
Provavelmente, Diógenes foi o mais folclórico dos filósofos. São inúmeras as histórias que se contavam sobre ele já na Antigüidade.
É famosa, por exemplo, a história de que ele saía em plena luz do dia com uma lanterna acesa procurando por homens verdadeiros (ou seja, homens auto-suficientes e virtuosos).
Igualmente famosa é sua história com Alexandre, o Grande, que, ao encontrá-lo, ter-lhe-ia perguntado o que poderia fazer por ele. Acontece que devido à posição em que se encontrava, Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para a Alexandre, disse: “Não me tires o que não me podes dar!” (variante: “deixe-me ao meu sol”). Essa resposta impressionou vivamente Alexandre, que, na volta, ouvindo seus oficiais zombarem de Diógenes, disse: “Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes.”
Outra história famosa é a de que, tendo sido repreendido por estar se masturbando em público, simplesmente exclamou: “Oh! Mas que pena que não se possa viver apenas esfregando a barriga!”
Outra história ainda é a de que um dia Diógenes foi visto pedindo esmola a uma estátua. Quando lhe perguntaram o motivo de tal conduta ele respondeu “por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém.”
A temática do cão
Diógenes sentado em seu barril cercado por cães. Pintura de Jean-Léon Gérôme de 1860.
Diógenes sentado em seu barril cercado por cães. Pintura de Jean-Léon Gérôme de 1860.
Muitas anedotas sobre Diógenes referem-se ao seu comportamento semelhante ao de um cão, e seu elogio às virtudes dos cães. Não é sabido se o filósofo se considerava insultado pelo epíteto “canino” e fez dele uma virtude, ou se ele assumiu sozinho a temática do cão para si. Os modernos termos “cínico” e “cinismo” derivam da palavra grega “kynikos”, a forma adjetiva de “kynon”, que significa “cão”. Diógenes acreditava que os humanos viviam artificialmente de maneira hipócrita e poderiam ter proveito ao estudar o cão. Este animal é capaz de realizar as suas funções corporais naturais em público sem constrangimento, comerá qualquer coisa, e não fará estardalhaço sobre em que lugar dormir. Os cães, como qualquer animal, vivem o presente sem ansiedade e não possuem as pretensões da filosofia abstrata. Somando-se ainda a estas virtudes, estes animais aprendem instintivamente quem é amigo e quem é inimigo. Diferentemente dos humanos, que enganam e são enganados uns pelos outros, os cães reagem com honestidade frente à verdade.
A associação de Diógenes com os cães foi rememorada pelos Coríntios, que erigiram em sua memória um pilar sobre o qual descansa um cão entalhado em mármore de Paros.
Precedente do anarquismo
Nas reflexões desenvolvidas pelo filósofos cínicos pode-se reconhecer importantes princípios do anarquismo ainda na Grécia Antiga. Segundo o historiador inglês Donald R. Dudley, em particular no pensamento de Diógenes podem ser identificados muitos elementos presentes no movimento anarquista da contemporaneidade.
Em seu artigo “Aristóteles e o Anarquismo” (Aristotle and Anarchism) o filósofo estadunidense David Keyt afirma que as sementes do anarquismo filosófico podem ser mais facilmente encontradas nas ideias de Diógenes de Sínope do que nas de Sócrates. Este mesmo autor confere também a Diógenes a defesa do gérmen do proto-internacionalismo na Antiguidade, uma vez que o próprio Diógenes, refutando todas as identidades vinculadas as cidades estados e povos antigos, e negando assim a imprescindibilidade da pólis (apolis), se definia como cidadão do cosmos (kosmopolitê). O peso do pensamento ácrata de Diógenes na filosofia da Antiguidade faz este autor considerar a hipótese de Aristóteles estar em parte reagindo e se contrapondo às ideias de Diógenes quando faz sua defesa da pólis.
Em relação a temática do casamento Diógenes refuta o modelo familiar grego afirmando que as esposas deveriam ser mantidas em comum, não reconhecendo nenhuma legitimidade em qualquer união baseada na coerção, mas somente nas relações que se baseiem na persuasão entre pares.
Keyt apresenta ainda a perspectiva de Diógenes em relação à escravidão. Sua crítica à escravidão estaria focada no caráter de voluntarismo da parte dominada em relação à dominante: escravos sentem necessidade de mestres.. Em relação a este tema a posição de Diógenes se aproxima das reflexões apresentadas por Étienne de La Boétie sobre a servidão voluntária. Além de ser outro importante precedente do anarquismo no final do medievo, La Boétie fora a seu tempo tradutor de diversos escritos relacionados aos cínicos, adotando também a metodologia cínica baseada na inventividade, no uso da ironia, em jogos de palavras e paradoxos.
“Na casa de um rico não há lugar para se cuspir, a não ser em sua cara.”
—Diógenes de Sínope
Da perspectiva apresentada por Roca e Álvarez Diógenes de Sínope pode ser considerado também um predecessor dos happenings como ferramenta de contestação política. Ainda na ótica destes autores, através de suas ações provocativas individuais com as quais contestava toda forma de autoridade (Diógenes adorava ridicularizar Platão enquanto autoridade filosófica) e de sacralidade, Diógenes pode ser considerado um importante precedente da vertente libertária conhecida como anarcoindividualismo.
Obras
Talvez em parte por causa de seu comportamento escandaloso, que os escritos de Diógenes caíram no quase total esquecimento. Com efeito, a politeia (a República) escrita por Diógenes ataca numerosos valores do mundo grego, preconizando, entre outros, a antropofagia, a liberdade sexual total, a indiferença à sepultura, a igualdade entre homens e mulheres, a negação do sagrado, a supressão das armas e da moeda e o repúdio à arrecadação em prol da cidade e de suas leis. Por outro lado, Diógenes considerava o amor como sendo absurdo: não se deve apegar-se a outra pessoa.
Certos estóicos, portanto próximos da corrente cínica de Diógenes, parecem ter preferido dissimular e esquecer essa herança julgada “embaraçosa”.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


                                  A RELIGIÃO E O SÓCIO
                                                                                                             FELIPE KEVIN RAMOS DA SILVA
                                                                                            (ALUNO GRADUANDO EM GEOGRAFIA\ UEPA)

  Desde o início o ser homem busca a explicação para o seu existir, os mitos, as explicações baseadas em fundamentos naturais, seriam os primeiros pressupostos para a existência do homem. Contudo para muitos, essas não seriam a melhor explicação do surgimento do homem, mas por fim, são fontes de verdade que devem ter seus merecidos respeito, são pensamentos que buscam a verdade, baseados na racionalidade, devem ter um respeito de uma religião.

  As explicações dos “por que estou aqui”, “para onde vou”, são perguntas que perseguem os pensamentos desde o inicio da racionalidade, por isso as explicações cosmológicas, metafísicas, ontológicas, seriam necessárias ou ate mesmo, menos absurdas para a tentativa dos “por que”. As religiões são importantíssimas nesse processo de aprendizagem de quem nos somos, pois ela acarreta fundamentos metafísicos, na tentativa de explicar o que somos de verdade, na tentativa de explicar nossas atitudes, contudo, teria então o meio sócio (sociedade) ter alguma coisa haver com esse processo de formação do individua homem enquanto sua moral, seus costumes, suas crenças¿

  A resposta seria que sim. A sociedade tem influencias significativas no psique humano, pois o mesmo é influenciado constantemente.Todos sofremos influencia do meio externo, a religião é um recurso de influenciador também, pois cada uma que seja, tem sua exatidão da existência do “eu”.Mas de uma forma contraditória, a religião peca, peca no sentido em que a mesma somente busca que o homem não seja homem, que o ser homem seja uma espécie de criatura livre de pecados, de erros, que busque sempre a perfeição e que nela permaneça, a religião é fundamental, mas incompleta, pois ela exclui o homem dele mesmo na tentativa de torna-lo livre de si próprio. Na tentativa de torna o homem livre do próprio homem ela o exclui que ele é homem, e constantemente é influenciado por questões sociais, a religião é falha enquanto na sua tentativa de perfeição pensa no homem como um ser sem influenciais e esquece que para que se chegue em algo é necessário seguir seu caminho oposto, não se pode ter algo sem ter aquilo que não se pode ter.

  Encaminho meus pensamentos e digo novamente ‘que toda e qualquer religião é falha quando na tentativa de perfeição do homem.’

                                                                                                                                                                                  - SILVA, Felipe Kevin R.  A Religião e o Sócio. 2012.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


 Autor: Felipe kevin Ramos da silva

A questão da Emoção enquanto Razão
                                  
A razão não deve ser compreendida como uma simples separação do pensamento “sensível”* do pensamente “insensível”*.
-->Pensamento sensível : Todo pensamento que supostamente é excluído de qualquer razão, aquilo que é tomado como imediato sem uma pré-reflexão sobre determinada situação.

-->Pensamento insensível : Todo pensamento que supostamente é compreendido através da busca pela razão. Muitas vezes, com a busca de tal racionalidade nos tornamos “insensíveis” em determinadas situações.

Em nosso cotidiano é necessários  tomar certas medidas,certas “atitudes” que te julgarão como um ser sensível ou não.As pessoas na sua maioria são guiadas pelo senso comum que as domina e impede a reflexão sobre seus atos,suas “atitudes”.
-->Ação da atitude : As nossas escolhas já pré-estabelecidas ou não, nos guiam para o “melhor caminho”, ou aquela escolha que julgamos ser moralmente correta,contudo,esse julgamento se baseia em nossa própria razão,podendo ter influência do meio externo,mas o ultimo pensamento deve ser do ser e a sua realidade.
Mas será mesmo que todo pensamento classificado como “pensamento emocional” é realmente,de fato,exclusivamente emocional ¿ não teria um pouco de razão na emoção ?
Partindo de um pensamento ,como por exemplo de Aristóteles,que a felicidade só se alcança através da razão, pois só por esse caminho nos tornaríamos seres éticos,moralmente virtuosos. A razão ao longo da historia da filosofia vem sendo pensado como único caminho a chegada “do que é certo”. A emoção também é o caminho da razão,só que de forma mal compreendida,é que todo pensamento elevado pela emoção entes foi algo racional convertido em um sentimento exaltado.A partir do que pensamos , e depois agimos,seja de forma moralmente correte ou não, foi um pensamento racional.
Até um pensamento  seguido de um ato rapidamente feito, é racional,pois essa atitude tomada rapidamente e algo progressivamente lento racionalizado durante a vida do indivíduo,logo em uma situação desconfortável,por exemplo,qualquer ato será considerado racional,se moralmente correto,cabe a sociedade julgá-lo. As suas faculdades intelectuais favorecem também para tomadas de atitudes.Toda razão é aproveitada pela emoção,e se logo deveríamos excluir esse “apartheid “ de pensamentos,pois a emoção é a razão.
A conhecimento do cotidiano(empírico) é representante das atitudes dos ser,mas o ser plenamente consciente de seus atos, ou ate mesmo o louco sabe o que faz ,mas não domina sua racionalidade,logo também não domina suas emoções. TODA EMOÇÃO É RESULTADO DO ACÚMULO DA RAZÃO EMPÍRICA (Kevin,Felipe).
Mas os atos das emoções são reflexo da razão,e os julgamento do que é certo ou errado dos atos(logo voltamos a emoção = razão),seriam certos a certeza de julga-los?
O que é o bem ou o mal a partir do pensamento da emoção?
Tomamos formas todos os dias,as certezas se modificam,nossos pensamentos são multáveis,logo nosso comportamento também é modificado todos os dias,e exaltado em determinada situação.
O BEM : Será mesmo que existe o bem,ou seria apenas uma atitude moralmente correta,não para mim,ou para você que estar lendo isto,mas sim,para um determinado ser é correto fazer esse “bem”. Matar uma pessoa,é moralmente incorreto pelas normais pré-estabelecidas pela sociedade,porém,nesse caso deve-se avaliar as questões motivadoras dos atos dessa “emoção exaltada”,talvez a pessoa tenha motivos corretos,do bem,para sua atitude,que cabe a ela julgar. O bem e o mal andam juntos, assim como a emoção e a razão. O bem é estabelecido na sua forma natural pelo próprio ser,sem influencia de sua convivência social,quando esse bem passa para sua forma “artificial” o “bem” pode vir a ser “mal” logo o “mal” não existe. O meio “artificial” é influenciado da moral “bem” que gera a maldade social.
-->Meio natural : O modo como o ser é estabelecido como nascido de pensamento no meio não social,logo na há influência moral de seus atos emocionais,influenciado apenas por sua razão empírica.
-->Meio Artificial : Meio social aonde o ser é influenciado constantemente,fazendo com que o próprio ser seja “bem” logo “mal”.


   - SILVA,felipe kevin R. A questão da Emoção enquanto Razão  22.11.12




A Filosofia de Descartes





René Descartes, nascido em 1596 em La Haye - não a cidade dos Países-Baixos, mas um povoado da Touraine, numa família nobre - terá o título de senhor de Perron, pequeno domínio do Poitou, daí o aposto "fidalgo poitevino".
De 1604 a 1614, estuda no colégio jesuíta de La Flèche. Aí gozará de um regime de privilégio, pois levanta-se quando quer, o que o leva a adquirir um hábito que o acompanhará por toda sua vida: meditar no próprio leito. Apesar de apreciado por seus professores, ele se declara, no "Discurso sobre o Método", decepcionado com o ensino que lhe foi ministrado: a filosofia escolástica não conduz a nenhuma verdade indiscutível, "Não encontramos aí nenhuma coisa sobre a qual não se dispute". Só as matemáticas demonstram o que afirmam: "As matemáticas agradavam-me sobretudo por causa da certeza e da evidência de seus raciocínios". Mas as matemáticas são uma exceção, uma vez que ainda não se tentou aplicar seu rigoroso método a outros domínios. Eis por que o jovem Descartes, decepcionado com a escola, parte à procura de novas fontes de conhecimento, a saber, longe dos livros e dos regentes de colégio, a experiência da vida e a reflexão pessoal: "Assim que a idade me permitiu sair da sujeição a meus preceptores, abandonei inteiramente o estudo das letras; e resolvendo não procurar outra ciência que aquela que poderia ser encontrada em mim mesmo ou no grande livro do mundo, empreguei o resto de minha juventude em viajar, em ver cortes e exércitos, conviver com pessoas de diversos temperamentos e condições".
Após alguns meses de elegante lazer com sua família em Rennes, onde se ocupa com equitação e esgrima (chega mesmo a redigir um tratado de esgrima, hoje perdido), vamos encontrá-lo na Holanda engajado no exército do príncipe Maurício de Nassau. Mas é um estranho oficial que recusa qualquer soldo, que mantém seus equipamentos e suas despesas e que se declara menos um "ator" do que um "espectador": antes ouvinte numa escola de guerra do que verdadeiro militar. Na Holanda, ocupa-se sobretudo com matemática, ao lado de Isaac Beeckman. É dessa época (tem cerca de 23 anos) que data sua misteriosa divisa "Larvatus prodeo". Eu caminho mascarado. Segundo Pierre Frederix, Descartes quer apenas significar que é um jovem sábio disfarçado de soldado.

Em 1619, ei-lo a serviço do Duque de Baviera. Em virtude do inverno, aquartela-se às margens do Danúbio. Podemos facilmente imaginá-lo alojado "numa estufa", isto é, num quarto bem aquecido por um desses fogareiros de porcelana cujo uso começa a se difundir, servido por um criado e inteiramente entregue à meditação. A 10 de novembro de 1619, sonhos maravilhosos advertem que está destinado a unificar todos os conhecimentos humanos por meio de uma "ciência admirável" da qual será o inventor. Mas ele aguardará até 1628 para escrever um pequeno livro em latim, as "Regras para a direção do espírito" (Regulae ad directionem ingenii). A idéia fundamental que aí se encontra é a de que a unidade do espírito humano (qualquer que seja a diversidade   dos objetos da pesquisa) deve permitir a invenção de um método universal. Em seguida, Descartes prepara uma obra de física, o Tratado do Mundo, a cuja publicação ele renuncia visto que em 1633 toma conhecimento da condenação de Galileu. É certo que ele nada tem a temer da Inquisição. Entre 1629 e 1649, ele vive na Holanda, país protestante. Mas Descartes, de um lado é católico sincero (embora pouco devoto), de outro, ele antes de tudo quer fugir às querelas e preservar a própria paz.
Finalmente, em 1637, ele se decide a publicar três pequenos resumos de sua obra científica: A DióptricaOs Meteoros e A Geometria. Esses resumos, que quase não são lidos atualmente, são acompanhados por um prefácio e esse prefácio foi que se tornou famoso: é o Discurso sobre o Método. Ele faz ver que o seu método, inspirado nas matemáticas, é capaz de provar rigorosamente a existência de Deus e o primado da alma sobre o corpo. Desse modo, ele quer preparar os espíritos para, um dia, aceitarem todas as conseqüências do método - inclusive o movimento da Terra em torno do Sol! Isto não quer dizer que a metafísica seja, para Descartes, um simples acessório. Muito pelo contrário! Em 1641, aparecem as Meditações Metafísicas, sua obra-prima, acompanhadas de respostas às objeções. Em 1644, ele publica uma espécie de manual cartesiano. Os Princípios de Filosofia, dedicado à princesa palatina Elisabeth, de quem ele é, em certo sentido, o diretor de consciência e com quem troca importante correspondência. Em 1644, por ocasião da rápida viagem a Paris, Descartes encontra o embaixador da frança junto à corte sueca, Chanut, que o põe em contato com a rainha Cristina.
Esta última chama Descartes para junto de si. Após muitas tergiversações, o filósofo, não antes de encarregar seu editor de imprimir, para antes do outono, seu Tratado das Paixões - embarca para Amsterdã e chega a Estocolmo em outubro de 1649. É ao surgir da aurora (5 da manhã!) que ele dá lições de filosofia cartesiana à sua real discípula. Descartes, que sofre atrozmente com o frio, logo se arrepende, ele que "nasceu nos jardins da Touraine", de ter vindo "viver no país dos ursos, entre rochedos e geleiras". Mas é demasiado tarde. Contrai uma pneumonia e se recusa a ingerir as drogas dos charlatões e a sofrer sangrias sistemáticas ("Poupai o sangue francês, senhores"), morrendo a 9 de fevereiro de 1650. Seu ataúde, alguns anos mais tarde, será transportado para a França. Luís XIV proibirá os funerais solenes e o elogio público do defunto: desde 1662 a Igreja Católica Romana, à qual ele parece Ter-se submetido sempre e com humildade, colocará todas as suas obras no Index.

O Método

Descartes quer estabelecer um método universal, inspirado no rigor matemático e em suas "longas cadeias de razão".
1. - A primeira regra é a evidência : não admitir "nenhuma coisa como verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal". Em outras palavras, evitar toda "precipitação" e toda "prevenção" (preconceitos) e só ter por verdadeiro o que for claro e distinto, isto é, o que "eu não tenho a menor oportunidade de duvidar". Por conseguinte, a evidência é o que salta aos olhos, é aquilo de que não posso duvidar, apesar de todos os meus esforços, é o que resiste a todos os assaltos da dúvida, apesar de todos os resíduos, o produto do espírito crítico. Não, como diz bem Jankélévitch, "uma evidência juvenil, mas quadragenária".
2. - A segunda, é a regra da análise: "dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis".
3. - A terceira, é a regra da síntese : "concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos".
4. - A última á a dos "desmembramentos tão complexos... a ponto de estar certo de nada ter omitido".
Se esse método tornou-se muito célebre, foi porque os séculos posteriores viram nele uma manifestação do livre exame e do racionalismo.
a) Ele não afirma a independência da razão e a rejeição de qualquer autoridade? "Aristóteles disse" não é mais um argumento sem réplica! Só contam a clareza e a distinção das idéias. Os filósofos do século XVIII estenderão esse método a dois domínios de que Descartes, é importante ressaltar, o excluiu expressamente: o político e o religioso (Descartes é conservador em política e coloca as "verdades da fé" ao abrigo de seu método).
b) O método é racionalista porque a evidência de que Descartes parte não é, de modo algum, a evidência sensível e empírica. Os sentidos nos enganam, suas indicações são confusas e obscuras, só as idéias da razão são claras e distintas. O ato da razão que percebe diretamente os primeiros princípios é a intuição. A dedução limita-se a veicular, ao longo das belas cadeias da razão, a evidência intuitiva das "naturezas simples". A dedução nada mais é do que uma intuição continuada.

A Metafísica

No Discurso sobre o Método, Descartes pensa sobretudo na ciência. Para bem compreender sua metafísica, é necessário ler as Meditações.
1. - Todos sabem que Descartes inicia seu itinerário espiritual com a dúvida. Mas é necessário compreender que essa dúvida tem um outro alcance que a dúvida metódica do cientista. Descartes duvida voluntária e sistematicamente de tudo, desde que possa encontrar um argumento, por mais frágil que seja. Por conseguinte, os instrumentos da dúvida nada mais são do que os auxiliares psicológicos, de uma ascese, os instrumentos de um verdadeiro "exército espiritual". Duvidemos dos sentidos, uma vez que eles freqüentemente nos enganam, pois, diz Descartes, nunca tenho certeza de estar sonhando ou de estar desperto! (Quantas vezes acreditei-me vestido com o "robe de chambre", ocupado em escrever algo junto à lareira; na verdade, "estava despido em meu leito").
Duvidemos também das próprias evidências científicas e das verdades matemáticas! Mas quê? Não é verdade - quer eu sonhe ou esteja desperto - que 2 + 2 = 4? Mas se um gênio maligno me enganasse, se Deus fosse mau e me iludisse quanto às minhas evidências matemáticas e físicas? Tanto quanto duvido do Ser, sempre posso duvidar do objeto (permitam-me retomar os termos do mais lúcido intérprete de Descartes, Ferdinand Alquié).
2. - Existe, porém, uma coisa de que não posso duvidar, mesmo que o demônio queira sempre me enganar. Mesmo que tudo o que penso seja falso, resta a certeza de que eu penso. Nenhum objeto de pensamento resiste à dúvida, mas o próprio ato de duvidar é indubitável"Penso, cogito, logo existo, ergo sum" . Não é um raciocínio (apesar do logo, do ergo), mas uma intuição, e mais sólida que a do matemático, pois é uma intuição metafísica, metamatemática. Ela trata não de um objeto, mas de um ser. Eu penso, Ego cogito (e o ego, sem aborrecer Brunschvicg, é muito mais que um simples acidente gramatical do verbo cogitare). O cogito de Descartes, portanto, não é, como já se disse, o ato de nascimento do que, em filosofia, chamamos de idealismo (o sujeito pensante e suas idéias como o fundamento de todo conhecimento), mas a descoberta do domínio ontológico (estes objetos que são as evidências matemáticas remetem a este ser que é meu pensamento).
3. - Nesse nível, entretanto, nesse momento de seu itinerário espiritual, Descartes é solipsista. Ele só tem certeza de seu ser, isto é, de seu ser pensante (pois, sempre duvido desse objeto que é meu corpo; a alma, diz Descartes nesse sentido, "é mais fácil de ser conhecida que o corpo").
É pelo aprofundamento de sua solidão que Descartes escapará dessa solidão. Dentre as idéias do meu cogito existe uma inteiramente extraordinária. É a idéia de perfeição, de infinito. Não posso tê-la tirado de mim mesmo, visto que sou finito e imperfeito. Eu, tão imperfeito, que tenho a idéia de Perfeição, só posso tê-la recebido de um Ser perfeito que me ultrapassa e que é o autor do meu ser. Por conseguinte, eis demonstrada a existência de Deus. E nota-se que se trata de um Deus perfeito, que, por conseguinte, é todo bondade. Eis o fantasma do gênio maligno exorcizado. Se Deus é perfeito, ele não pode ter querido enganar-me e todas as minhas idéias claras e distintas são garantidas pela veracidade divina. Uma vez que Deus existe, eu então posso crer na existência do mundo. O caminho é exatamente o inverso do seguido por São Tomás. Compreenda-se que, para tanto, não tenho o direito de guiar-me pelos sentidos (cujas mensagens permanecem confusas e que só têm um valor de sinal para os instintos do ser vivo). Só posso crer no que me é claro e distinto (por exemplo: na matéria, o que existe verdadeiramente é o que é claramente pensável, isto é, a extensão e o movimento). Alguns acham que Descartes fazia um circulo vicioso: a evidência me conduz a Deus e Deus me garante a evidência! Mas não se trata da mesma evidência. A evidência ontológica que, pelo cogito, me conduz a Deus fundamenta a evidência dos objetos matemáticos. Por conseguinte, a metafísica tem, para Descartes, uma evidência mais profunda que a ciência. É ela que fundamenta a ciência (um ateu, dirá Descartes, não pode ser geômetra!).
4. - A Quinta meditação apresenta uma outra maneira de provar a existência de Deus. Não mais se trata de partir de mim, que tenho a idéia de Deus, mas antes da idéia de Deus que há em mim. Apreender a idéia de perfeição e afirmar a existência do ser perfeito é a mesma coisa. Pois uma perfeição não-existente não seria uma perfeição. É o argumento ontológico, o argumento de Santo Anselmo que Descartes (que não leu Santo Anselmo) reencontra: trata-se, ainda aqui, mais de uma intuição, de uma experiência espiritual (a de um infinito que me ultrapassa) do que de um raciocínio.




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